(…) Vejam as instruções que eu dei no início do sesshin: não julgue, não faça da sua maneira e sim como lhe mandarem fazer, não critique, não opine. Em vez de dizer a razão pela qual fazemos de tal maneira, simplesmente dizemos como deve ser feito, não explicamos esperando que assim se crie uma mente que consiga chegar à origem. Então é o caminho inverso, isso é frequente no zen porque a prática da forma é assim. Nós não dizemos faça tal coisa porque isso tem esse significado espiritual, nós simplesmente dizemos faça essa coisa assim e pronto. Dizemos: coloque os seus chinelos alinhados na entrada do zendō. Nós não dizemos exatamente o porquê de colocar os chinelos alinhados. Nós somente dizemos o que fazer e esperamos que ao praticar assim, você acabe tendo uma mente atenta e cuidadosa. Então preste atenção porque a abordagem do zen é inversa, ela parte da forma para a mente, não da mente para a forma.
Nós não dizemos tenha uma mente calma e tranquila. Tranquilize-se e acalme-se no zazen. Não, nós dizemos fique quieto, esperando que ao ficar quieto você acabe acalmando a sua mente. Nós não dizemos ao copo com areia, do exemplo que eu dei, fique límpido. Nós somente o deixamos quieto e a areia vai cair no fundo. Essa é a abordagem do zen e não é bom dar explicações, porque se as dermos roubamos a oportunidade da pessoa chegar à origem. Explicar também é uma forma de enaltecer o ego. Então o zen tem essas abordagens que às vezes nós não entendemos muito bem ou que parecem demasiadamente detalhistas, parece que o monge tem toc, mas não é bem isso.
Vamos ler agora um dos mais importantes textos de Keizan. É um texto curto, apenas uma página e meia chamado: “Zazen yojinki – recomendações para a prática do zazen”. Keizan diz: “O zazen permite despertar o espírito diretamente e manter-se aprazivelmente no seu verdadeiro lugar. É o que se denomina mostrar o próprio rosto original e fazer surgir os aspectos da própria natureza fundamental.”.
Trecho da Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Pirenópolis-GO, outubro/2018.