(…) Então tudo o que você tem que fazer é sentar em zazen e tentar ficar aqui, deixando esse tempo se prolongar. Cada vez que você se perde: retorne, retorne, retorne. Esse retorno contínuo à medida de que você for praticando vai permitir que você fique mais tempo em concentração. Surgirão insights ou percepções que parecerão magníficos para você mas não são kenshō, ainda. Kenshō é uma experiência mais radical em que além de você estar em samadhi, você esquece de você mesmo e a sensação de integração com tudo surge.
Muitas pessoas narram sensações de perda de limites do seu corpo, de perda de percepção localizada de como está e por isso é tão importante ficar imóvel no zazen. Quando você se move, todas as sensações e percepções físicas retornam e você retorna para esse corpo, para a noção de individualidade, para a manifestação de agora. A sua noção de unidade com tudo não tem a menor possibilidade de se instalar se você se move o tempo todo, por isso é importante para nós diminuir os estímulos, por isso ficamos de frente para a parede e por isso pedimos silêncio, para que as pessoas não movam as suas mentes através das conversas. Se você tiver experiências de kenshō elas inicialmente serão curtas e fugazes até que você aprenda a retornar para aquele estado de samadhi, do qual poderão surgir novos kenshōs.
À medida que você praticar torna-se mais fácil entrar em samadhi porque você aprende como, qual é o estado mental, qual atitude deve ter. Mas é uma experiência individual, eu posso descrever, mas não posso dar a ninguém isso, você é que tem que fazer o treinamento e ter a experiência. Não é uma coisa que se possa transmitir verdadeiramente. E o kenshō também acontece do mesmo modo. O kenshō acontece para quem pratica samadhi e quando a pessoa tem a primeira experiência é sempre uma surpresa, você não esperava que acontecesse e quando você se dá conta que aconteceu, você a perde.
Então essa fugacidade obriga que você tenha muitas experiências de kenshō para aprender como fazer para não deixá-las escapar, para prolongá-las e, no fim, para ter a experiência de kenshō quando você deseja. Essa é uma experiência iluminada, mas não significa que essa pessoa seja aquilo que nós entendemos como iluminado. Ele teve a experiência, mas continua se comportando mal na vida, continua se perdendo, se deixando levar por paixões como a raiva, a ira, o ciúme, a inveja. (Continua…)
Trecho da Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Pirenópolis-GO, outubro/2018.