Zazen e corpo | Monge Kōmyō

Zazen e corpo | Monge Kōmyō

(…) Eu já procurei ensinar que a prática contemplativa não é algo que possa ser ensinado através de um mapa ou uma receita. A experiência contemplativa depende muito da natureza individual dos praticantes. Ela vai ser desenvolvida, ou alcançada, a partir do momento em que cada praticante conseguir lidar com os seus lastros, transformar e curar os aspectos que tornam a prática em si mesma árdua, difícil.
Ano passado eu procurei também ensinar que um aspecto importante na experiência zazen que, por sua vez, pode levar mais tarde às experiências de esclarecimento é a postura. No zazen, a postura é muito importante. Isso porque, dentre outras coisas, quando nós estamos em zazen – e todos vocês sabem disso porque isso acontece com todos nós -, a distração é uma constante. E quanto mais o nosso corpo não se adaptar bem à experiência zazen, mais a distração vai ocorrer. Em psicologia, há o termo “somatização”. O nosso corpo e a nossa postura são resultados da somatização de aspectos emocionais, de memórias, experiências difíceis ou até saudáveis. O nosso corpo é uma tradução de quem nós somos: isso é inevitável.
A postura zazen não é fácil, eu sei. E, para muitos, é uma luta. Mas a luta é parte do processo. A luta é parte do desafio. O corpo dói. As pernas não conseguem ficar na postura correta. As costas se curvam. Eu sei disso. Não é fácil. Mas, à medida que nós conseguimos trabalhar a nossa mente, nós também vamos conseguir trabalhar o corpo e vice-versa. A prática zazen não é uma prática de relaxamento. A prática zazen não é uma prática para dormir, nem relaxar. A prática zazen é uma prática para acordar. É a prática do despertar. Estar alerta. Prestar atenção. É por isso que nós praticamos. Para perceber com mais clareza o que está acontecendo conosco e a nossa volta.
Quando a postura acompanha a nossa atitude alerta, a postura do zazen é alerta. Postura firme. Costas retas. Rosto para frente. Quando nós olhamos alguém praticando o zazen, em uma postura equilibrada, saudável, sem tensão, sem a somatização, a postura do indivíduo é a postura de alguém que está acordado. Ele pratica, está em silêncio, mas nós sabemos que a mente daquele indivíduo está alerta. Ele está ciente do que está acontecendo. Eu não estou dizendo que essa pessoa já se tornou um Buda, o que eu quero dizer é que essa pessoa já mostra que ela consegue observar melhor a si mesmo. Porque ela já está atenta aos aspectos saudáveis e não saudáveis de sua natureza.


Teishō proferido por Kōmyō Sensei em 3 de fevereiro de 2023.