“Está presente diante da tua face, e neste instante tudo te é oferecido. Para uma pessoa inteligente uma palavra basta para convencê-la da verdade, mas, apesar disso, ainda incorre em erro. O Zen se afasta muito mais de nós quando tentamos explicá-lo com papel e tinta, prendendo-o numa armadilha verbal e lógica. A grande verdade Zen é possuída de todos. Olha o teu próprio ser e não o procures através dos outros. Tua mente está acima de todas as formas, É livre, calma e suficiente. Eternamente se imprime a si mesma nos teus cinco sentidos e quatro elementos. Em sua luz tudo é absorvido. Abandona o dualismo do sujeito e do objeto. Esquece-os. Transcende o intelecto. Afasta-te dele e penetra diretamente no âmago de identidade da mente de Buda. Fora dela não há realidades.” Quando Bodhidharma veio do Ocidente, a única coisa que declarou foi: “Apontando diretamente à própria alma, minha doutrina é única, e não é assolada por ensinamentos canônicos. É a transmissão absoluta do verdadeiro sinal”. O Zen não tem nada a ver com letras, palavras, ou sutras. Só requer que te encaminhes diretamente ao ponto onde hás que encontrar a morada da paz. Quando a mente é perturbada e a compreensão incitada, coisas são reconhecidas, noções entretidas, espíritos fantasmagóricos conjurados, e os preconceitos crescem sem controle. O Zen será perdido para sempre nessa selva.O sábio Sekiso (Shim-shuang) disse: Refreia todos os teus desejos. Deixa crescer o mofo nos lábios. Transforma-te numa peça de seda imaculada. Deixa que teu único pensamento seja a eternidade. Procura assemelhar-te às cinzas mortas, frias e sem vida, ou sé como um velho incensório num santuário abandonado de uma aldeia!
Põe tua fé nisto e disciplina-te. Deixa que teu corpo e tua mente se tornem objeto da natureza, tal uma pedra ou um pedaço de madeira. Quando um estado de perfeita imobilidade e inconsciência é obtido, cessarão todos os sinais de vida e mesmo os traços de limitação. Nenhuma idéia te perturbará a mente. Até que, súbito, descobrirás uma luz brilhando no seio de urna alegria imensa! É como cercar-se da luz no meio das trevas. Como receber um tesouro na pobreza. Os quatro elementos e os cinco agregados não mais se assemelham a pesados fardos, tão leve e tão livre tu estás. Tua própria existência foi libertada de todas as limitações. Estás aberto, leve e transparente. Ganhaste uma visão iluminadora da verdadeira natureza das coisas, que te aparecem agora conto flores fantásticas sem realidade concreta. Aqui se manifesta o ser sem sofisticações, que é a face real do teu ser. Aqui é mostrada, em toda a sua nudez, a paisagem do teu nascimento. Há somente uma paisagem direta e desobstruída internamente. Isto ocorrerá quando entregares tudo – teu corpo, tua vida, tudo enfim que pertença ao teu ser mais intimo. Ai, sim, alcançarás a paz, a tranqüilidade na ação e deleites inexprimíveis. Todos os sutras e sastras nada mais são do que comunicações deste fato. Os sábios antigos e modernos esgotaram o seu engenho e imaginação para apontar esse caminho. É como o destrancar da porta de um tesouro. Quando chegamos à entrada, cada objeto que a vista alcança é nosso, cada oportunidade que se apresenta está disponível para o nosso uso. A caso não poderão ser obtidas todas as posses dentro do ser originário de cada um de nós? Cada tesouro aguarda apenas que o descubras e utilizes. Isto é o que significa: “Uma vez ganho, eternamente ganho, até o fim dos tempos’. Todavia, nada foi ganho. O que obtiveste não é ganho. No entanto, há algo que foi realmente ganho.”
Yengo (Yuan Wu)