4) Mas nesse caso a vergonha não estaria no ato de matar o cachorro em si, mas sim na condição que leva o homem a matar o cachorro? O quanto ele foi rejeitado e abandonado até chegar a essa condição? Onde entra a compaixão nisso?
Monge Genshô – A compaixão nasce justamente de sair de dentro de si e sentir como o outro se sente. Sobre a notícia, a revolta era pelo fato de terem matado cães e gatos e tem esse lado especista de colocar uma espécie como privilegiada. Cães não são melhores que bezerros. Algumas pessoas se sentem horrorizadas porque em alguns países se matam cães para comer, e dai? É só uma questão cultural. Para cultivar a compaixão é necessário que a pessoa saia de si e veja como o outro, homem ou animal, se sente. Existem sofrimentos tão inimagináveis no mundo que tornam os nossos absolutamente tolos, claro, se conseguíssemos vê-los. Vocês conseguem imaginar o que acontece em um país como a Síria? As notícias não são de pais que enterram filhos ou esposas que enterram maridos, são números, “morreram cinco mil pessoas em bombardeios”. O sofrimento é tão grande que não pode ser individualizado, é olhado como estatística. É mais ou menos o que acontece no Brasil, onde ocorrem cento e quarenta assassinatos por dia. Todos os dias cento e quarenta famílias lidam com a morte de alguém. Uma pergunta que devemos fazer é: “que tipo de vida vivemos e que mente tivemos para virmos nos manifestar em mundo como esse”? Estamos aqui porque fomos atraídos por nossos impulsos e desejos. Só há uma maneira de sair desse mundo, mudando o carma, caso contrário voltaremos sempre para cá, para onde nos sentimos atraídos.