Vivemos representando papéis

Vivemos representando papéis

Pergunta – A compreensão perfeita do “não-eu” ?
Monge Genshô – Isso. A compreensão da vacuidade, dessas características da existência, “não-eu”, “anatta”, a impermanência, “anittya” e a característica cíclica da vida, “dukkha”. Se tiver uma perfeita compreensão disso, já destruiu o sofrimento. Existem muitos textos sobre esse assunto, você deve ler sobre o Dharma, pois ele não é simples, essa é uma forma da entender e praticar, a outra é sentar para meditar e outra ainda é praticar na sua vida diária, quando lavar a louça, quando estiver conversando com alguém, no dentista, enfim, no seu dia-a-dia. Quando você está em uma discussão e assume um erro, ou dá razão à outra pessoa, seu “eu” enfraquece e isso é muito bom.
Pergunta – Em alguns momentos parece muito fácil de entender, mas no segundo seguinte tudo muda. Essa questão do “EU”. Estar em casa e educar os filhos é algo que exige um “EU” permanente, eu até já fui mais flexível, mas hoje não mais. Não consigo mais ver de outra forma, existe nesse momento um forte “EU” que precisa estar presente para que eu consiga educar meus filhos, caso contrario eles tomam conta.
Monge Genshô – Mas isso é carinho. Qual sua convicção ao fazer isso, não é o desejo de obter o melhor, você não faz isso por amor? Nos mosteiros não é muito diferente.
Essa educação que você pratica é libertadora, mas muito difícil, se você sentar uma criança na mesa e perguntar o que ela quer comer, ela dirá que nada do que tem na mesa é bom o que ela quer é batata frita. Mas não confunda o fato de você ser severa na educação com ter um “EU”. Você tem que usar um “EU” para transitar no mundo. Para que eu fale para vocês preciso de um “EU” de professor do Dharma. Em alguns lugares eu sou Petrucio, em outros, sou Chalegre e aqui sou Monge Genshô. Nesses momentos é que você vê que seu “EU” é uma construção. Não se confunda, você não é esse “EU” de mãe, isso é só um papel que você está exercendo. Vivemos representando papéis e nenhum deles somos nós de verdade. A verdadeira pergunta é “quem somos nós”?