Uma coletânea de ensinamentos de Buddha, de Sutras antigos, começa com um verso que diz que o karma, o que acontece com cada ser, é influenciado pela sua mente, e os seus atos seguem a mente, assim como as rodas de uma carroça seguem o boi que a traciona.
Algumas vezes, esse ensinamento tem sido distorcido, a partir da interpretação de que a mente influencia os acontecimentos do Universo, que os nossos pensamentos atraem acontecimentos – tese que foi desenvolvida por uma autora australiana como “A Lei da Atração”. Essa tese nada tem que ver com o Budismo. A declaração do Dhammapada e de Buddha é de que a mente influencia nossas palavras, nossas palavras influenciam nossas ações e, assim, nossos atos acabam sendo influenciados por aquilo com que alimentamos nossa mente e aquilo que pensamos.
Nossa mente não provoca acontecimentos externos, faz cair pedras, raios ou influencia os números da loteria. Não se trata disso. Nossa mente influencia a nós mesmos. E, assim, nós fazemos e agimos de acordo com uma mente que nos guia, nos provoca e nos faz agir de uma maneira ou de outra.
Assim como pavimentamos o caminho sobre o qual andamos com as nossas ações – e dessa forma são nossas ações que produzem nossas marcas kármicas, que nos inclinam para um lado ou para o outro –, caminhamos sobre esse caminho preparado por nós mesmos.
Nossas ações são influenciadas, são pautadas por como pensamos, como acreditamos, como imaginamos, como desejamos. E é isto o ensinamento de Buddha. Qualquer ideia mágica de atração ou algum segredo místico extraordinário provocado pela mente sobre o mundo externo é uma extrapolação desnecessária e, além de tudo, não verídica.
Praticamos zazen para enxergarmos nossa mente com clareza, para a limparmos. E, assim, à medida que a limpamos, cortamos nossos impulsos, modificamos nossa maneira de pensar, e isso muda nossos atos. Nossos atos influenciam os acontecimentos à nossa volta. E, assim, mudamos nossa vida presente, nossa vida futura e a vida dos que nos rodeiam. Não há magia nisso. É pura ação e consequência.
Sejamos senhores da nossa mente e a vigiemos cuidadosamente para que ela não nos conduza a atos que possam nos atrapalhar, e, sim, para que ela nos leve a atos construtivos e bons. Em especial, em um momento como esse, devemos cuidar dos outros, e ver como nossas ações podem influenciar toda a comunidade. Vigiemos cuidadosamente nossa mente, nossas palavras, nossas ações.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, março/abril de 2021.