Participante: Boa noite Mestre! Eu senti falta de vocês semana passada. Isso já é apego?
Genshō Rōshi: Espero que não. Sentir falta ainda não é apego, mas é apego quando a gente precisa controlar.
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Participante: Como podemos aprender a desapegar?
Genshō Rōshi: Primeiro você precisa compreender com clareza. Olhe bem, todas as coisas são impermanentes, todas vão passar. Todas, todas, absolutamente todas. Não existe nada permanente nesta vida, nem você mesmo é permanente. Uma vez eu disse para uma platéia: olhem suas mãos, pegue sua mão direita e olhe sua mão. E aí disse: bem, os vermes vão comer tudo, não vai sobrar nada. Você é apegado a sua mão? Ela vai ser, ou comida por vermes, ou cremada num crematório. Ai não vai demorar tanto, o tempo de vida que a gente pode muito bem estimar. O INSS, eu tenho uma aposentadoria do INSS, ele tem uma estimativa de quanto tempo eu vou viver e publica numa tabela. Nós esperamos que uma pessoa de 74 anos viva até os 86, é uma coisa assim. Então eu sei, a minha expectativa é 12 anos. Então desse corpo aqui, dentro de 12 anos, pela expectativa do INSS, não deve sobrar nada. Espero frustrá-los, porque sendo vegetariano, certamente tenho uma sobra, um pouquinho a mais, mas, não é muito e, inevitavelmente, chega um momento que é um fim, e tudo isso que vocês estão vendo: as olheiras, as sobrancelhas, a testa e tudo mais, tudo vai desaparecer. A primeira coisa é nós compreendermos isso: tudo vai desaparecer. Se somos apegados a nós mesmos, ao nosso corpo, ele vai sumir. Se somos apegados às coisas, elas também vão ser destruídas em algum tempo. As outras pessoas, os seres que nós amamos, também vão embora. Não há nenhuma coisa à nossa volta que seja permanente. Primeira coisa para compreender. E se você compreender isso com clareza, seu apego começa a ser erodido.
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Participante: Porque quando amamos, tantas vezes nos deixamos cair tão facilmente no apego, mesmo sabendo que não é correto?
Genshō Rōshi: Porque é da nossa natureza, nós somos seres humanos, e nós somos frágeis, e costumamos olhar as coisas em termos de possuirmos, e por isso nos apegamos fortemente, e isso é causa de nossos sofrimentos. Se nós fossemos pessoas despertas, iluminadas, que compreendêssemos claramente a impermanência de todas as coisas, não iríamos cair na armadilha do apego, e saberíamos amar de forma mais desprendida.
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Participante: Boa noite! Como deve ser a nossa relação com bens materiais, principalmente no contexto de desigualdade?
Genshō Rōshi: Os bens materiais, em si, não são o mal. O problema é como você age em relação a eles. Então, num contexto de desigualdade, você não deve ser avarento, ávido, com bens que faltam a outras pessoas, e um dos preceitos budistas é não sonegar ajuda quando ela é necessária, material ou espiritual. Essa é uma orientação para todos, embora fique bem claro, no contexto em que nós vivemos, que a quantidade de pessoas passando necessidades é absurdamente alta, mas existe grande culpa no nosso sistema governamental, no como agimos. Há países que têm sistemas de proteção extensos; eu sempre cito os países do norte da Europa, como a Suécia, Finlândia, Noruega, a Dinamarca, que tem diferenças entre o mais alto salário, e o mais baixo salário, entre 4 ou 6 vezes. Ninguém passa necessidade em um lugar como esse, e você não se sente culpado de por acaso comer, quando outros não tem o que comer. Então nós deveríamos nos empenhar em termos governos parecidos com os desses países, não o tipo de governo que nós temos tido no Brasil, em que mesmo aqueles que falaram em igualdades, na realidade, dedicam-se a acumular, e a tirar do Estado tudo que podem para o bem próprio do seu grupo. Então os idealistas na América Latina tem parecido sempre com os personagens da Revolução dos Bichos, de George Orwell.
Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como superar o apego”, do canal Sobre Budismo, em 28 de junho de 2022.