Treinando a mente no retiro

Treinando a mente no retiro

            Final de refeição em retiro na Sangha Zen de Florianópolis  SC   Morro das Pedras.

Pergunta – Qual o problema do erro? Existe, de fato, problema em cometer erros?
Monge Genshô – Os erros acontecerão, isso não é importante. Por exemplo, eu chamo o Jisha e lhe digo: “O altar de Buda está sujo”. Ele estará errado se disser, para se desculpar: “Pois então, o pessoal da limpeza não veio ontem e hoje o encarregado faltou”. Se o altar de Buda está sujo, ele deve pegar um pano e limpá-lo rapidamente, sem desculpas ou questionamentos. A atitude correta é essa, sendo incabível tentar encontrar o encarregado ou responsável que não exerceu corretamente sua função. Não perguntamos quem quebrou o vaso, juntamos os cacos e varremos o chão. Perguntar ou procurar pelo culpado é enaltecer o ego, que é separação. (O culpado está lá o certo sou eu que estou aqui, sou superior…etc…)
Pergunta – Uma das coisas que a gente percebe em qualquer individuo é o surgimento de uma certa vaidade. Assim como na mente de zazen surge o pensamento, pode surgir a culpa?
Monge Genshô – Como pode haver culpa se somos todos uma unidade? Se alguém se mexe no zazen, quem está se mexendo? Suponhamos vinte pessoas na sala e uma que se mexe: quem está se mexendo? Todos. A Sangha está se mexendo. A Sangha não está imóvel. Não é aquela pessoa que não está imóvel, é a Sangha. É essa a visão. Não há culpa ou não culpa, simplesmente, está acontecendo, é essa a visão que temos que entender. Você vai para um sesshin e alguém deseja algum cargo, alguma função. Não deve existir o desejo por alguma coisa. Se alguém receber alguma incumbência, deverá cumpri-la; se não receber função alguma, não deve sentir-se sensibilizado por isso, pois essa é  demonstração de ego. Temos que atentar para o fato de que cada um deve cuidar de si mesmo. É isso que está sendo visto. Vocês percebem que isso é diferente do que vemos no mundo, onde todos querem se destacar e ter sucesso. Na Sangha não pode haver o desejo de destacar-se. Há um ditado japonês, que provavelmente veio do zen, que diz: “Um prego que se destaca será martelado”. E se não se destaca? Ótimo. Ele está no mesmo nível de todos os pregos, não está fazendo nada para tornar-se diferente, está executando exata e tão somente sua função, que é segurar a madeira. As regras são essas, não se justifique, não explique, não compare.
Comentário – Eu faço muito isso Monge, o tempo todo. Há coisas com as quais as pessoas não se importam e eu gostaria que elas se importassem, pois gostaria de ter seu reconhecimento, gostaria que elas vissem que ajo ou faço algo corretamente.
Monge Genshô – Mas se você percebe, isso já é uma grande coisa, porque fazemos coisas erradas o tempo todo; eu faço muitas coisas erradas. É impossível ser perfeito. Mas temos que saber de onde vem, por que e como agir nestas situações, e pedir desculpas, porque não é isso que as pessoas estão acostumadas a fazer, as pessoas estão acostumadas a se justificar, a se defender. Dizem: “imagina, não fui eu, aliás, isso aconteceu porque Fulano fez tal coisa”. As três palavras no treinamento zen dos monges noviços são: sim, desculpe, obrigado.