Viktor Frankl foi um famoso psicólogo, fundador da Logoterapia, terceira escola vienense de Psicologia. Ele teve a terrível experiência de ser jogado na segunda guerra mundial em um campo de concentração nazista e milagrosamente salvou-se. Ele viu milhares e milhares de pessoas morrerem e o sentido da vida pareceu escapar completamente entre seus dedos.
Conta ele que depois da libertação continuava envolto em uma neblina. Apesar de libertos pareciam não acreditar na sua grande sorte e ainda carregavam a culpa de serem sobreviventes, tendo consciência de quantos companheiros tinham desaparecido. Mortos de fome ou levados para câmaras de gás para o puro e simples extermínio.
Porém um dia andando num campo repentinamente deu-se conta da vida e uma enorme alegria o invadiu e ele caiu de joelhos. Uma experiência mística ou espiritual, muitas vezes narrada como epifania, não se trata de falar com um ser sobrenatural, mas sim de dar-se conta. De repentinamente descobrir a própria existência e a partir daí Viktor Frankl desenvolve sua tese sobre a angústia existencial e faz uma grande pergunta a seus pacientes: “antes de qualquer coisa qual é o motivo para você existir? O que dá sentido à sua existência?”. E assim chama a atenção para a liberdade que temos para agir, a responsabilidade que temos pelo fato de existir e a nossa consciência. Ele tenta fazer com que seus pacientes descubram motivos para tornar suas vidas úteis e significativas.
Do ponto de vista budista não recebemos missões, nem ninguém nos enviou para cá. Somos frutos da vida por si mesma e assim como uma borboleta com uma vida breve de dois dias não se pergunta por que existe e apenas trata da própria reprodução, permanece no ciclo da vida, nós fomos jogados à existência e agora já que temos liberdade, responsabilidade e consciência cabe a nós mesmos transformarmos as nossas vidas em vidas significativas.
Então o budismo nos coloca a questão: como devo sair de mim mesmo, olhar para todo o resto e colocar minha responsabilidade com todos os outros seres, minha consciência de existir para fazer algo que dê sentido à minha existência? O sentido e o significado não vem de fora, não nos foram dados, nós é que temos que achá-lo.
Sentados em zazen tomamos consciência de nossa existência no universo, já estamos aqui e já recebemos esse presente inconcebível, agora como podemos fazer dele algo significativo?
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, setembro/2021.