Todos os momentos são a prática | Monge Genshō

Todos os momentos são a prática | Monge Genshō

Queria comentar com vocês um livro chamado O Dragão Que Nunca Dorme. Eles foram escritos pelo Roshi Robert Aitken (1917-2010) do Zen Rinzai, e tem prólogos de Thich Nhat Hanh e do Roshi Daniel Terragno, um grande amigo meu, que me deu este livro com uma dedicatória. Eu queria fazer algumas considerações. As formas dos votos e dos gathas. Gathas, significam versos. No Mahayana as formas dos votos e do gathas convergem frequentemente. Huai Hen Shing, tem um capítulo intitulado “Prática Purificadora”, que consiste em centro e trinta gathas, votos ou versos com votos. E Aitken compôs poemas para esse livro com gathas e isso é uma forma muito inspiradora de transformar nossos atos diários em prática do Zen. Às vezes, pensamos que Zen é praticar Zazen. Zen não é só praticar Zazen, e este é o tema da nossa palestra de hoje. Zazen é a prática estabilizadora da mente, para propiciar a nossa prática constante e diária. Todos os momentos, na realidade, devem ser prática.
Por exemplo, no Huai Hen Shing, um gatha do capítulo de Prática Purificadora diz “quando vejo fluir a água, tomo o voto, com todos os seres, de desenvolver uma vontade saudável e cortar as manchas do engano”. Então, vamos ver alguns gathas e comentá-los, para vermos como podemos transformar nossa prática diária, nossos atos diários, em prática do Zen. Por exemplo, existem muitas coisas que interrompem o nosso dia. Muitas coisas que tomamos como perturbadoras. Então, o primeiro diz “cada vez que o telefone soa, cada vez que meu telefone toca, cada vez que meu celular chama, tomo o voto, com todo os seres, de deixá-lo soar uma vez mais, enquanto inspiro e expiro atentamente”. Volto para cá, para esse momento. Ele tocou, eu paro, inspiro, expiro, volto a esse momento e aí, então, tomo o telefone para atendê-lo. Outro “quando o trânsito está muito congestionado, tomo voto, com todos os seres, de mover-me quando o mundo começa a mover-se e descansar quando, de novo, haja uma pausa”. Estou no bulício do trânsito, tentado a ficar impaciente. Então, eu tomo o voto de vou me mover quando o trânsito se mover. E vou descansar, pausar, junto com ele. Vou ficar quieto e aceitar a situação de pausar, quando ele pausar e mover-me quando ele se move. Sem deixar-me inquietar.
Vou tomar chá. Antes de tomar chá, faço votos para sentir seu perfume. Então, pausadamente, bebe-lo. Uma vez, vi uma pessoa perguntar a Saikawa Roshi de uma forma que não se deve fazer, em absoluto, mas a pessoa perguntou “o senhor pode me mostrar sua iluminação?”. Saikawa Roshi pegou um copo de água, tomou um gole e não fez mais nada. Quando a turbulência é inevitável, tomo o voto, com todos os seres, de fechar meus olhos, por um momento, e encontrar meu tesouro, justo ali. Tenho vontade de pausar, depois de cada verso, porque acho que temos que sentir o significado.
Aqui, estou perto do aeroporto, sempre passam aviões. Os aviões perturbam ou não perturbam nossa palestra? Não importa, eles só passam. Então, poderíamos, cerrar os olhos, por um momento, e encontrar nosso tesouro, justamente nesse momento. Quando vejo as notícias na TV, tomo voto, com todos os seres, de refletir sobre o Dharma inexpressável à natureza fugaz da vida. Empurrando meu carrinho no supermercado, tomo voto, com todos os seres, de dar-lhes a bem vinda ao espinafre e às cebolas e regozijar-me com o serviço que me prestam. Poderia ser também, regozijar-me com o sol que está contido nelas, com a energia do sol que está contida nas plantas e que depois vem até mim e se transforma na energia com que eu vivo. Quando a mesa está servida para comer, tomo voto com todos os seres, de aceitar cada prato como uma oferenda que honra meu antigo caminho.


Pergunta: Sensei, Juliano Minari pergunta qual o título do livro, por favor.
Genshō Sensei: O livro não existe em português. Ele foi editado pela Fundação Maitreya, editada em Buenos Aires. O autor é Robert Aitken, e o nome “El Dragon Que Nunca Duerme” ( O Dragão Que Nunca Dorme). O original deve ter sido escrito em inglês.


Teishō proferido por Meihō Genshō Roshi, no Daissen Virtual, em Abril de 2022.