As pequenas dificuldades que surgem para nossa prática devem ser tomadas como lições. Se uma conexão não funciona para entrar na sala virtual, apenas sente-se. Isto era coisa que os mestres de antigamente jamais cogitaram: de fazer reuniões a distância, de ter celulares, de ter conexões que lhes permitissem falar com os alunos a milhares de quilômetros de distância.
Dias atrás, falei sobre uma experiência de estar em Cuba, em uma sangha zen, e ver que eles tinham enormes dificuldades de conseguir pano para fazer zafus, e que os praticantes simplesmente pegaram pedras chatas para sentar-se sobre elas à guisa de zafus. Esse exemplo de praticantes que não se deixam abalar pelas mais prementes necessidades e continuam a achar meios de praticar me tocou profundamente. Não importa que não houvesse meios de conseguir vidros para colocar nas janelas do zendô, não importa que não houvesse maneiras de evitar os mosquitos, não importa que não houvesse zafus macios para sentar-se. Apesar de tudo, eles encontravam maneiras de assim permanecer na prática.
Os mestres de antigamente, do tempo de Buddha, para comer, tinham que sair para mendigar e aceitar qualquer coisa que colocassem em suas tigelas. Assim, o Zen progrediu através dos tempos, aumentou seu número de praticantes, construiu monastérios, cresceu, decaiu, perdeu pureza e disciplina, e então apareceram mestres para reformá-lo, para dar-lhe vitalidade novamente, para colocar em andamento regras e procedimentos que permitissem a prática.
Agora, vivemos também um momento turbulento: pandemias mundiais, dificuldades para reunir as pessoas, ameaças de doenças que podem levar praticantes aos hospitais, ou mesmo à morte, e achamos maneiras de praticar, crescer e enfrentar as dificuldades justo no momento em que elas pareciam fortes e capazes de prejudicar a prática do Zen. Então, os momentos de dificuldades são grandes momentos e grandes oportunidades.
Quando surgir qualquer dificuldade, não devemos nos abalar com ela, mas utilizá-la para darmos força e permitir que nós sejamos capazes de ganhar determinação, persistência e energia, apesar dos problemas que se apresentem. Essa nossa qualidade de praticantes é exatamente o que Shakyamuni Buddha esperaria.
Assim, seja o que for que aconteça, colocamos nosso zafu no chão, ou nos sentamos em nossas cadeiras, não importando a posição ou as dificuldades de nosso corpo, e iniciamos a prática, sem depender de nada em volta. Se houver apoio, que bom que houve apoio. Se houver possibilidades de encontrar um mestre, então aproveitamos a oportunidade. Se houver a oportunidade de estudar o Dharma, abriremos os livros e os Sutras e estudaremos dedicadamente. Só assim podemos escapar da cadeia de sofrimento em que nos metemos com nossas mentes turbulentas.
Que a prática seja nosso guia. Que o zazen seja nosso apoio. Que o Dharma seja a trilha que seguimos denodadamente, passo a passo, sabendo que, ao fim, haverá uma fonte de água fresca, que poderá matar nossa sede de conhecimento e de paz.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, Daissen-virtual, outubro/2021.