Suicídios monásticos no Tibete

Suicídios monásticos no Tibete

Já se contabilizam 11 suicídios de monjas e monges no Tibete, em protesto contra a opressão chinesa, apesar da desaprovação enfática do Dalai Lama e das restrições budistas o desespero é tão agudo que leva estes religiosos a se imolarem pelo fogo em um protesto público afim de, com seu dramatismo, moverem a opinião pública e socorrerem os outros oprimidos.
Sobre o tema o Prof Sasaki, iniciou uma série de postagens em seu blog, Folhas do caminho, do qual transcrevo o primeiro abaixo:
“O caso dos monges suicidas do Tibete – 1
As notícias recentes de que há uma onda de suicídios entre monges e monjas tibetanos que, assim, protestam contra a extrema ditadura chinesa em seu país, são em si mesmas preocupantes. É um ato político, sem dúvida, e ocasionado pelo grau de violência demonstrado pelo governo chinês há décadas. Neste sentido, apenas temos que nos solidarizar com este povo que não têm recebido apoio algum das nações do mundo, as quais se curvam ao poderio econômico e político da China.
À parte a questão política, uma pergunta de outra ordem tem também surgido com frequência: “É correto ou permitido aos monges se suicidarem?” Temos visto essa pergunta e mesmo recebido essa indagação que se justifica diante do contraste em relação aos preceitos tão associados ao Buddhismo de não-violência e preservação da vida. Afinal, consta logo do primeiro preceito de treinamento (pañcasīla) a determinação de se abster de tirar qualquer vida, e isso, é claro, inclui a própria. Nossa questão é, então, saber se haveria uma base doutrinal que possa justificar o suicídio no contexto religioso buddhista ou se tais atos devem ser compreendidos exclusivamente como aqueles de representantes religiosos de um povo desesperado diante da violência genocida empreendida pelo governo chinês.
Tal questão possui ainda duas peculiaridades. Primeiro, que a ação de protesto intensa é feita por monges, representantes por excelência da religião adotada pelo povo. Em segundo lugar, essa ação não é a primeira na história buddhista, pois podemos nos lembrar do suicídio no contexto religioso em pelo menos outras duas ocasiões bem conhecidas, qual seja, como forma de protesto também no Vietnam, e o suicídio no Japão, empreendido seja como ato de honra (harakiri) diante de uma situação percebida como vergonhosa, ou como justificativa religiosa para matar e se matar pela pátria nos casos de guerra (como no caso dos kamikazes).
Desta forma, podemos fazer nossa pergunta novamente, é doutrinal ou religiosamente justificável o suicídio em situações extremas? Parte da perplexidade provém da superficialidade doutrinal que anima até mesmo a população de adeptos buddhistas. Conhece-se pouco em nosso meio as bases doutrinais da prática buddhista. Por outro lado, a população em geral está muito pouco consciente das diferenças existentes entre as várias escolas nas quais o Buddhismo se divide. A partir disso, muito frequentemente a visão que se tem do Buddhismo se resume em noções vagas doutrinais, preceitos de compaixão e solidariedade, e técnicas meditativas variadas. Sua profunda riqueza e diversidade de expressão passa completa e lamentavelmente desapercebida.”