Pergunta – O senhor sempre fala das construções, não é? Eu tenho sempre que olhar para dentro de mim pra ver que construção é essa que eu faço, se é boa ou não. Tenho que ter sempre essa preocupação?
Monge Genshô – Nós precisamos ter clareza e lucidez para poder observar que tipo de construção é. O importante é não se agarrar a nada. Há pessoas que sofrem por causa de coisas e outras por causa de pessoas, isso é mais fácil de entender, mas o absurdo é sofrer por bandeiras. Se conseguirmos descartar os apegos, os sofrimentos diminuirão. Temos que conservar o amor. Essas coisas que são construções da mente não têm importância.
Pergunta – Mas é difícil observar coisas como o sofrimento de outras pessoas e imaginar que isso não tenha importância.
Monge Genshô – Claro, isso é importante. Se você vê o sofrimento de outros seres e se compadece, vai sofrer junto. Isso é muito bom. Não sofrer quando uma pessoa que você gosta sofre, seria muito estranho. Parece que o treinamento do Zen faz com que as pessoas fiquem insensíveis mas é exatamente o contrário.
Pergunta – Mas como lidar com isso em situações que não há nada a ser feito?
Monge Genshô – Sofra junto. Se você não pode fazer nada, apenas chore junto. É claro que não há como comparar o que você como monge ou médico sente e se compadece, com o que sente a pessoa mais intimamente ligada a quem sofre. De certa forma você sofre, mas mantém certa distância, pois logo em seguida virá outra pessoa sofrendo e se você se mantiver em constante estado de sofrimento, facilmente perde a sanidade. Muitas vezes para mante-la você deve sair de dentro de você e perceber o que você está fazendo em relação ao outro. Eu tenho um neto com leucemia e observo que mesmo sendo meu neto, meu sofrimento é muito menor que o da minha filha. O que ela fez foi observar todas as mães que sofrem e tentar mudar o contexto. Ela está olhando para além do próprio sofrimento, isso é que é importante.