Sobre o Vazio (Parte 01)

Sobre o Vazio (Parte 01)

Um texto diz assim: porque existe o inominado, o inconcebível, o não-nascido, e porque existe o não nascido, é por isso que pode existir tudo. Normalmente nós chamamos esse inominado, esse inconcebível, de vazio. E usamos “n” metáforas para explicar o vazio. Por exemplo, todo mundo já deve estar cansado de ouvir sobre “nós somos ondas na superfície de um oceano”; nós somos ondas cármicas, o oceano é, nessa analogia, o vazio. Em sânscrito, shunya. O vazio só se manifesta como forma. Quando você olha o vazio, você só pode ver o vazio quando ele se manifesta como formas, então você olha para esse oceano e vê a superfície do mar e as suas ondas. Se você retira toda a superfície do mar e todas as ondas, o que tem embaixo? Água. Como a água se manifesta? De novo, com ondas, irregularidades, etc. E se você retirar essa superfície de novo, vai ter a mesma coisa embaixo que só se manifesta daquela forma. Então o Sutra do Coração trata desse assunto e ele diz: “O vazio é forma e a forma é o próprio vazio. O vazio nada mais é do que forma. E a forma nada mais é do que vazio.” O vazio é aquilo que o Sutra se refere como inominado, inconcebível, aquilo que não pode ser nomeado, por isso dizemos que é vazio. Mas não é vazio no sentido de “nada”. 

Eu já vi budistas dizerem: “A ciência está provando que tudo é vazio”. Isso é uma incompreensão profunda daquilo que nós estamos nos referindo como vazio. Eu sei que os átomos são praticamente 99,99% de vazio. É tão vazio, tão vazio, que um neutrino, uma partícula de neutrino, passa através de toda a Terra e sai do outro lado sem bater em nada. Alguns raros neutrinos, da chuva de neutrinos que passa através de nós, bate em algum núcleo atômico e então nós os podemos identificar. Para ver um neutrino você tem que fazer uma piscina no fundo de uma caverna, para identificar alguns lampejos de neutrinos que por acaso bateram num núcleo atômico, porque nem notamos quando um neutrino passa através de toda a massa da Terra e sai do outro lado sem bater em coisa alguma, tão vazia é de matéria, e tão vazios de matéria são os átomos. Mas isso não tem nada a ver com o chamado vazio budista que nós estamos usando. Então essa palavra, o vazio budista, também é uma palavra que confunde na nossa tradução.
(Continua)

 [Trecho de palestra proferida por Meihō Genshō Sensei]