Sobre o termo "monge"

Sobre o termo "monge"

Extrato de “aula” dada pelo eminente Rev. Wagner, Monge da ordem Otani do budismo Shin, em discussão aberta em site de relacionamento:
“Caros amigos e irmãos no Dharma,
Embora não esteja participando mais ativamente do fórum, acho que essa discussão em termos de compreensão é bastante válida, mas tenho sempre um pé atrás quando “de fora”, digo, fora de uma instituição nós queiramos mudar usos e costumes da mesma. Acredito que movimento tenha que partir “de dentro”, ou seja, a partir da compreensão e mesmo necessidade de adaptação dos termos por cada escola.
……
Vamos começar pela questão de se existem ou não “monges” budistas.
Bem, o termo “monge” já foi exaustivamente explicado em tópicos anteriores e por isso não carece repetir o que foi dito. (Monge vem do grego, “monos”, e significa “só” uma referência ao isolamento dos primeiros contemplativos. NE) Então, na verdade, nem mesmo os Bhikshus atuais seriam exatamente monges, pois a maioria vive em templos “mosteiros” e levam vida comunitária e não solitária (caso que se aplica a quase todas as ordens “monásticas” cristãs, também).
No Japão há uma distinção entre os Bhikshus e “Sôryô” que seria o “monge” das escolas japonesas. O Sôryô não necessáriamente faz todos os votos do Vinaya e alguns nem mesmo os fazem oficialmente. É uma transmissão da linhagem.
No caso a Ordem Otani-ha do Budismo Shin (Higashi Honganji) à qual eu pertenço, vem trabalhando já a algum tempo, tentando melhorar o vocabulário em português e tentando evitar erros muito graves no uso desses termos, como por exemplo, chamar a cerimônia budista de missa, o “monge” budista de “padre budista” e etc.
Isso tudo tem raízes em dois pontos, um deles é a tradução e mesmo a publicação dos primeiros textos e livros em línguas ocidentais, em inglês é possível se ver até mesmo o termo “freira” budista para uma bhikshuni. Outro ponto desse problema está no fato de que o Budismo foi introduzido no Brasil pela colônia japonesa cuja língua não tem nenhuma relação com as raízes greco-latinas, e assim para se comunicar com os brasileiros, os japoneses, por exemplo, perguntavam aos católicos: “como se chama a cerimônia dominical que vocês frequentam na igreja?” e, ao ouvir a palavra “missa”, imediatamente faziam a assimilação….. uma cerimônia religiosa se chama “missa” (o que é um grande engano).
E isso pode ser aplicado a muitos outros termos que foram se consolidando ao longo de décadas e é possível ainda se ouvir isso no dia-a-dia dos fiéis dos templos e até mesmo por parte de alguns religiosos.
No caso do termo “monge” na Escola Jôdo Shinshu, este seria totalmente inadequado, pois a nossa tradição não segue o Vinaya e nem mesmo parte dele, como no caso do Zen, Shingon, Tendai e outras escolas. Então, passamos a usar os termos correspondentes (também adaptados de tradições já existentes no ocidente) às funções, como por exemplo, Diácono (um religioso já iniciado mas não ordenado que realiza algumas cerimônias e serve a um templo ou comunidade), Ministro do Dharma para os ordenados, Missionários para os Ministros do Dharma que já possuem o grau de Mestre da Doutrina (Kyôshi) ou até mesmo Mestre do Dharma (Hôshi) e que recebem a incumbência específica de propagar o Dharma oficialmente em nome da Missão.
O título adotado para todos esses casos é o de “Reverendo”, sendo esse um termo neutro que pode ser usado para qualquer religioso seja ele budista, cristão, islâmico, judeu ou outras denominações.
Mas confesso que ainda é complicado, pois quando as pessoas perguntam o que é exatamente um Ministro do Dharma, ou um Missionário da Otani-ha, a resposta mais simples é dizer: “um monge budista do Budismo Shin”.
O fato de se utilizar o termo “monge Zen”, “monge shingon”, “monge nichiren” (acho que os religiosos do Nichiren-shu também usam esse termo, mas isso eu deixo para o nosso irmão Guilherme), e outras, apenas indica que essas pessoas receberam uma ordenação dentro de suas tradições.
Por mais que se proteste em listas do orkut, ou se berre à vontade, somente se os membros e praticantes de uma tradição discutirem e chegarem a um acordo e isso estiver de acordo com os Estatutos da Ordem é que poderá ser mudado.
Sem falar naquilo que eu já disse acima, “usos e costumes”.
Se todos chamam o Genshô-san ou a Coen-san de Monge-Monja, ou Mestre ou Osho-san ou sei lá o que, vai depender da Ordem e da Comunidade.
Em minha cidade há uma colônia muito grande de imigrantes ucranianos que se dividem entre ortoxos russos auto-cefálicos (ou seja que não seguem as ordens do governo Russo) e de Católicos Romanos mas de rito oriental, nos dois casos há uma divisão entre monges (que fazem os tres votos: pobreza, castidade e obediência) e padres que apenas fazem o voto de obediência ao bispo, e portanto se casam, compram carros, casas e bens e sustentam suas famílias e filhos… isso aos olhos dos católicos romanos de rito latino é um absurdo, mas ambos são reconhecidos da mesma forma como “padres” pelo próprio direito canônico do Vaticano….
Então, para mim, é assunto interno.
Só vale a pena a discussão a nivel informativo.
gasshô.”
rev_wagner@yahoo.com.br