Após o verso do manto os monges o vestem e aqueles que já fizeram votos também colocam seus rakusus, seus mantos simbólicos e nesse momento nos transformamos nas árvores do pomar de Buddha. Todos nós somos assim, os iniciantes são aqueles que são sementes ou mudas ainda pequenas, vamos crescendo e amadurecendo e nos tornamos fortes. Mas nós homens costumamos pensar muito e quando usamos nossas mentes cogitamos de dúvidas, pensamos sobre nós mesmos, se somos adequados, certos, se nossa confiança no Dharma é suficiente e algumas vezes alunos duvidam de si mesmos.
Isso me recorda um filme de Frank Capra em que um homem prestes a ir à falência duvida de si mesmo e pensa em morrer e um anjo lhe mostra como seria o mundo se ele não tivesse existido. Pensamos que nossa influência é pequena, mas não é verdade. Em nossa ausência muitas vidas seriam diferentes, muitos acontecimentos não teriam ocorrido. Em lugar de cogitar e pensar devemos agir como as árvores no pomar. As mangueiras naturalmente produzem mangas sem pensar, as macieiras maçãs, os pessegueiros pêssegos. Eles não pensam e por isso fazem algo tão complexo. Fazem algo que nos parece impossível: tomam carbono da atmosfera e o transformam em frutos com a energia do sol, operando um verdadeiro milagre.
Devemos compreender que nós mesmos somos capazes de milagres, de transformações inconcebíveis. Nossa capacidade de transformar é muito maior do que pensamos e quando duvidamos de nós mesmos é porque colocamos nossa mente a cogitar “será que sou capaz de produzir frutos doces?”.
As árvores do pomar já têm tudo resolvido, porque como não cogitam e não pensam naturalmente produzem o que é de sua natureza. Portanto, em vez de duvidar de nós mesmos devemos simplesmente ser. Aqueles que são monges devem simplesmente ser monges, sem cogitar. Aqueles que são praticantes leigos devem ser praticantes leigos bons e dedicados, sem pensar. Os que estão crescendo simplesmente devem crescer. Naturalmente se estendermos nossos braços, nossos galhos, para os céus, naturalmente o sol nos dará a energia necessária. A atmosfera e a terra nos darão os materiais necessários e seremos aquilo que podemos ser. Nossa potencialidade se manifestará. Basta não duvidar, basta estender os braços.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, setembro/2021.