(continuação)
Meu primeiro professor, Igarashi Roshi, disse que com esforço não se consegue nada, mas sem esforço, aí sim é que não se vai a lugar algum. Entendeu? Essa é a declaração típica do Zen, pois o esforço que vocês estão fazendo sentando-se em zazen não vai lhes fazer conseguir nada; mas sem esforço aí sim: não vão a lugar nenhum.
Então, nossa única opção é a de nos sentarmos em zazen, assumindo que não vamos chegar a lugar nenhum. Se você realmente assumir que não tem condições e não vai chegar a lugar algum, então há alguma esperança.Há muitas histórias Zen, de muitos Monges estudiosos, esforçados, que por serem muito inteligentes ou cultos, queriam sempre argumentar ou qualquer coisa assim, confiavam nas suas opiniões tinham seus “achos”, diziam “eu acho que tem que ser assim, ou assado, acho que o Mestre deve fazer assim, que o templo deve ser organizado de tal forma, etc.” que as instituições são cheias de falhas, que muitos monges são problemáticos. Estão sempre cheios de ideias, e por isso se atrasam no caminho.Há a história de um Monge que, depois de vinte anos e de algumas entrevistas muito decepcionantes com o Mestre, desistiu. Foi para um eremitério na montanha e ficou lá. Jogou fora seus livros e desistiu. No entanto, continuou sentando e varrendo. Um dia, uma pedrinha foi tocada pela sua vassoura e bateu em um bambu e fez “poc”. Neste momento ele despertou. A única condição verdadeira era desistir, e isso é difícil de ensinar.
Talvez os alunos mais difíceis, embora os mais interessantes, sejam os mais inteligentes, os mais autoconfiantes, que acreditam em si mesmos, que dizem “eu entendo”, “eu conheço”, “eu entendo as pessoas”, “eu decodifico tudo”, “eu estou sabendo o que está acontecendo”. Esse aluno é ótimo, mas é muito difícil porque ele aprecia a sua cela e dá valor à sua prisão mental: “minha cela é boa”, “meu poço é maravilhoso”, “é magnífico”, “eu entendo muito bem esse meu poço”, “eu sei como são os poços”.Então, a pergunta inicial era se havia outro método para se concentrar? Não, não são métodos, não é nada disso, é tudo muito simples, descomplicado. Mas, ao mesmo tempo, a sofisticação dessa simplicidade é grande demais, e daí torna tudo muito difícil, porque não é fácil remover este obstáculo.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei em Goiânia, 06/2017]