(…) Foi aquele mestre ao qual se contrapôs Hui Neng, nosso ancestral.
Ele, como discípulo de Shen Hui, esteve com ele até a sua partida para Luo Yang, no ano 701. Então ele se dirigiu para o sul e foi ver Sexto Patriarca em Pao Lin. A sua chegada, depois de render homenagem ao mestre, ele lhe perguntou:
“Mestre! Quando estás sentado em meditação vês ou não vês?”
O mestre se levantou e golpeou três vezes Shen Hui. E logo lhe perguntou:
“Shen Hui! Quando te golpeio dói?”.
“Me dói sem doer-me”.
“Pois eu vejo sem ver, mas tu nem sequer vês tua própria natureza. Como te atreves a vir embaraçar a mim?”.
Shen Hui se inclinou e não pronunciou nenhuma palavra mais.
“Por que teu espírito está cego? Vieste a perguntar o teu caminho a um amigo bondoso. Mas só cultivando a prática em conformidade com a lei se despertará teu espírito e então verás por ti mesmo. Mas por que te extravias e não vês a tua própria mente? Tens vindo a perguntar-me se eu vejo… só eu sei se vejo. Como poderia substituir a ti que está cego? Por que não vais a exercitar-te tu mesmo em vez de perguntar-me se vejo?”
Shen Hui se prostrou, se fez discípulo do mestre e não abandonou o Monastério Pao Lin até a morte do Sexto Patriarca.
Lembrem! O Sexto Patriarca de que estamos falando é Hui Neng. Antes ao que parece este lhe transmitiu, lhe deu a Transmissão do Dharma. Quando Hui Neng anunciou sua morte com um mês de antecipação, todos os discípulos próximos irromperam em soluços e só Shen Hui permaneceu impassível. E o Sexto Patriarca disse:
“Ainda faz pouco que és monge, mas chegaste à justa indiferença. Nem os elogios, nem as censuras te comovem. Vós, outros, não haveis chegado a este ponto. Depois de tantos anos treinando nesta montanha, que progresso fizestes vós? De que vos lamentais hoje? Imaginais que não sei aonde vou? Soluçais porque não conheceis meu destino e se o conhecesses não chorarias.”
Depois da morte de seu mestre, Shen Hui saiu de Pao Lin para realizar uma longa peregrinação.
No ano 720, um édito imperial ordenou que ele se estabelecesse no monastério Long Xing e ali recebeu visitas de personagens notáveis de ministros. E parece que Shen Hui se havia convertido em um inimigo ativo da Escola do Norte, na pessoa do seu sucessor Shen Hsiu. No ano de 725, este recebeu a ordem de ir residir na Corte. Era um homem grave, taciturno e que pretendia representar a exclusiva ortodoxia. A Escola do Norte triunfava naquele momento e parecia que se havia olvidado a Hui Neng, coisa que Shen Hui, que havia sido esse discípulo que estamos estudando, não podia suportar. Teve então longas conversações com Xiangmo Zang e importantes discussões doutrinais com o célebre mestre de Dhyana, Puji. E é um desses debates que vamos estudar ao fim da presente aula. (Continua)
Teishō proferido por Meihō Genshō Sensei, no Daissen Virtual, em março de 2022.
