Shen Hui IV | Monge Genshō

Shen Hui IV | Monge Genshō

Vamos para a controvérsia de Hui Neng e Shen Hui. Um dia, o mestre Chonyuan perguntou a Shen Hui. O mestre de Dhyana Puji, lembrem-se: Puji foi aquele que foi para a corte, representando a escola do norte que veio a desaparecer.

“O mestre de Dhyana Puji e o mestre de Dhyana Xiangmo Zang ensinam a imobilizar a mente a fim de entrar em concentração e a ‘fixar ela para captar a sua vacuidade, ativar a mente para que ilumine o exterior e a concentrá-la a fim de que obtenha o despertar em seu interior’. Eles sustêm que esta é a doutrina. Por que tu não ensinas esse método?”

Respondeu então Shen Hui. Lembrem-se que esses são debates públicos em que naquela época colocavam-se mestres de diferentes posições, para debater um em frente ao outro, para ver quem ganhava de Shen Hui:

“Não posso ensiná-lo, porque constitui por si mesmo um obstáculo para o despertar. Examinar a própria mente seria fazer dela um objeto de conhecimento e perder de vista o verdadeiro objetivo. As palavras de meu grande mestre, o Sexto Patriarca, penetravam uma atrás da outra em seus ouvintes como se fossem flechas. Eles faziam captar diretamente sua própria natureza sem recorrer a um ensinamento gradual. Os que estudam na via devem despertar subitamente. Só depois necessitam praticar gradualmente a fim de obter a liberação. Acaso uma mãe não ponha o seu filho no mundo subitamente? Depois lhe dá o seio, o alimenta e pouco a pouco a sabedoria da criança vai crescendo espontaneamente. O mesmo ocorre com o despertar. A visão da natureza de Buda sobrevém bruscamente. A grande sabedoria Prajna se acrescenta depois por si mesma. Sentar em Zazen é a não-produção de pensamento o qual não deve separar-se de Dhyana, que designa a natureza fundamental. Está aqui o porquê da teoria de que falas deve rechaçar-se.”

Vale observar aqui que os alunos do Zen frequentemente têm experiências em ‘insights’ significativos no início de sua prática. Às vezes, antes de estarem praticando e por isso vem praticar. Porque tiveram uma experiência súbita e inesperada em que viram uma realidade que parecia que não existia antes. Como se o mundo todo tivesse se mostrado de forma diferente, o mal e o bem tivessem desaparecido, e o mundo fosse perfeito. Frequentemente aparecem essas palavras na descrição desses fatos: “tudo era perfeito”. E algumas pessoas têm uma experiência assim e pensam: “me iluminei!”. Conseguir despertar – isto é um Kenshō. Não é verdade, ele apenas teve um vislumbre e ele não é tão raro assim é a partir daí que devemos começar a praticar e é isso que Shen Hui está explicando.

Em vida, o mestre de Dhyana, declarava que o Sexto Patriarca havia recebido o Kasaya, o manto da lei:

“Ele nunca pretendeu ser o Sexto Patriarca, mas hoje o mestre de Dhyana Puji outorga a ele o título de Sétimo Patriarca, estabelecendo falsamente a seu mestre como Sexto Patriarca. Isto não se pode admitir. O mestre Shen Hsiu replicou a glória e o nome do mestre Puji cobre o mundo. Em todas as partes se fala dele, seu ensinamento se transmite de boca em boca. Atacá-lo não é arriscar a vida?”

E se havia chegado com efeito a esse ponto. Já antes o haviam culpado de um atentado noturno contra o Sexto Patriarca, que já mencionamos e que foram companheiros de Puji. Então por que estavam próximos do poder? As discussões a respeito de quem seria admitido ou não tornaram-se demasiado fortes, levando a verdadeiros embates e tentativas de eliminação.

(CONTINUA)

Teishō proferido por Meihō Genshō Sensei, no Daissen Virtual, em março de 2022.