Shen Hui III | Monge Genshō

Shen Hui III | Monge Genshō

Um dos grandes debates doutrinais entre dois dos mestres do Chan. Então vamos ver como esses debates ocorreram. Hoje em dia, não vemos mais esse tipo de coisa e evitamos com todo o empenho debates entre mestres. Embora os mestres tenham diferenças, às vezes bem marcantes na sua maneira de ensinar, na sua maneira de ver o zen e os senseis sejam profundamente independentes na sua maneira de ensinar, isso caracteriza uma coisa que nós chamamos de linhagem.

Se vocês são meus alunos, alunos do Daissen, quando forem se apresentar em qualquer lugar sempre lhes será perguntado: quem é seu professor? E você vai dizer “eu sou fulano de tal, aluno Genshō Sensei” e, então, imediatamente aquela pessoa que está ali perguntando, por conhecer minhas posições e maneiras de ensinar, sabe qual é a sua linhagem. Eu pertenço a linhagem de Saikawa Roshi, meu mestre, e, sempre que me apresento,eu digo “sou aluno de Saikawa Roshi” e, quando escrevo: “seu aluno, your student”. E essa situação não muda ao longo de toda a vida e nem depois da morte do mestre ela cessa. Porque a linhagem é caracterizada exatamente por uma maneira de ensinar e por um determinado professor. Do outro lado, nós temos o conceito de escola, nós pertencemos a grande escola Soto Zen. Podemos ser professores senseis dessa escola, com diferenças superficiais no nosso ensinamento, mas somos companheiros na grande escola Soto Zen. Quando uma linhagem torna-se muito forte, muito grande e distingue muito a sua forma de ensinar de outra, então estabelecem-se novas escolas. Foi isso que aconteceu no passado. Muitas escolas sobrevivem durante algum tempo e depois desaparecem.

Na história que nós acabamos de narrar, a escola dita “do Norte” deixou de existir, sobreviveu pouco tempo depois desses fatos, porque a Escola do Sul tornou-se tão abrangente, tão popular, tão seguida que não houve mais mestres da Escola do Norte e é por isso que ela desaparece. Depois de Hui Neng, tivemos cinco grandes escolas, cinco grandes casas de alunos, dos grandes alunos de Hui Neng, alguns mestres muito interessantes dos quais vale a pena ler textos até hoje. Mas não existe mais a escola de Hui Neng: ela desapareceu e não deixou seguidores suficientes que fossem transmitindo e a escola permanecesse. De modo que, dessas cinco grandes casas, só sobreviveram duas: a Escola Soto e a Escola Rinzai. Durante um bom tempo, a Escola Rinzai foi muito poderosa, pois estava ligada ao império japonês, por exemplo, e foi muito estimada no meio dos samurais. E a Escola Soto era mais humilde e mais voltada para o povo, para os camponeses, mas, com o tempo, justamente a proximidade com o poder causou problemas na Escola Rinzai. E a Escola Soto foi a escola que sobreviveu e tornou-se mais popular, maior. Hoje em dia, noventa por cento do Zen no mundo é da Escola Soto, da nossa escola.

Então devemos compreender essas distinções entre escolas e entre linhagens. Como dentro do Budismo nunca houve perseguições do tipo, não vamos queimar na fogueira por quem diz que não pensa igual a nós. Então, as escolas não perseguiram as outras escolas de modo a eliminá-las ou matar os seus membros ou declarar hereges ou coisas semelhantes. O que acontece é uma questão de preferência de adaptação aos tempos ou de forma de ensinar, que faz com que uma linhagem cresça e/ou uma escola se torne abrangente. É essa a história do Budismo. Não temos, embora tenha havido desavenças, combates e amargas discussões, não houve uma guerra religiosa em toda a história do Budismo. Nunca aconteceu uma coisa como aconteceu na Europa por exemplo: o Catolicismo e o Protestantismo com enormes guerras de países contra países tentando impor a sua própria religião, ou cortando as cabeças daqueles que não estavam de acordo com a determinada linha de pensamento. Isto não aconteceu na história budista. O que é para nós um verdadeiro orgulho. Que o pacifismo budista tenha superado os egoísmos pessoais.

(CONTINUA)

Teishō proferido por Meihō Genshō Sensei, no Daissen Virtual, em março de 2022.