Shen Hui II | Monge Genshō

Shen Hui II | Monge Genshō

No ano de 734, Shen Hui tomou ofensiva, reunindo uma importante assembleia de mestres mais eminentes do Chan. Ante eles, declarou que as pretensões da Escola do Norte ao Patriarcado careciam de fundamento. Puji não tinha nenhum direito de atribuir-se, como fazia, com o título de Sétimo Patriarca, fazendo de seu mestre o Sexto Patriarca, título que este sempre havia rechaçado, pois lembrem que ele havia reconhecido que a sucessão havia sido dada a Hui Neng. Esta era uma iniciativa valente, mas extremamente arriscada, pois a Escola do Norte gozava do favor da corte. Shen Hui tornou-se, com isto, uma grande celebridade e prosseguiu ativamente a sua campanha para a reabilitação do Sexto Patriarca.

No ano de 739, conheceu o poeta Wang Wei, que ocupava importantes cargos no estado e era primeiro adepto da Escola do Norte. Mas, se uniu depois a do Sul e, no ano 741, teve uma conversação com o ministro Wang Wei, que lhe valeu a benevolência da corte. Puji que havia ido para a corte representando a escola oposta morreu e, no ano 745, Shen Hui foi convidado a dirigir um importante monastério. Tinha então 77 anos de idade e mesmo assim realizou uma atividade assombrosa. Todos os meses organizava conferências em que expunha, em um público amplo, os ensinamentos de seus êxitos e exasperava seus adversários e vítimas de suas calúnias. Shen Hui foi exilado no ano 753. Mas, depois da queda do imperador e o acesso ao poder de seu filho Suzong, voltaram a chamá-lo. Necessitavam da sua eloquência para encher as arcas vazias do Estado vendendo certificados de ordenação monástica. Infelizmente, o rei se prestou a essa duvidosa operação e morreu em plena glória no ano de 770, na idade de 92 anos.

Pensemos o que pensemos de um personagem certamente não inteiramente correto. Posto que ao final de sua vida, chegou a aceitar um compromisso que havia condenado os seus adversários. Há que se fazer justiça pelo fato de que com uma lealdade, entrega, dignas de reconhecimento. Chegou a conseguir seu objetivo. Quando ele morreu, já ninguém discutia que Hui Neng fosse o único verdadeiro Sexto Patriarca e que seus herdeiros deveriam beneficiar-se disto. Zen ou Chan já não podiam ser senão instantaneísta. A Escola do Norte estava praticamente condenada e sobreviveu pouco tempo. Vale uma observação aqui que o texto não nos esclarece, mas a Escola do Norte era a escola gradual e a Escola do Sul, que é representada por Hui Neng e seus sucessores, é uma escola instantaneísta – nós somos representantes desta sucessão, descendente da Escola Instantaneísta. No entanto, se nós pegamos um texto que é relido dia sim, dia não, nos Monastérios Zen, o Sandōkai, ele se refere a questão de que essa discussão é ociosa. Discussão entre gradual e instantâneo e, nesse sentido, aqui na sangha, somos seguidores desse ensinamento continuamente repetido no Zen posterior.

A discussão entre gradual e súbita é inútil. Porque, de um lado, nossa prática é gradual, mas o despertar é súbito. De modo que não discutimos se a escola é gradual ou a escola é súbita. Não fazemos isso. Nós dizemos: pertencemos a uma escola que acredita que o despertar acontece subitamente, mas, do outro lado, para nos prepararmos para termos uma mente tal que seja capaz de reconhecer ou seja capaz de experimentar um despertar súbito, é necessária uma longa preparação. Portanto, ao mesmo tempo, somos graduais e súbitos. Vale a pena ler o texto sobre a controvérsia de Shen Hui e Hui Neng que citamos anteriormente.

(CONTINUA)

Teishō proferido por Meihō Genshō Sensei, no Daissen Virtual, em março de 2022.