Só tem lógica que o carma provoque uma manifestação se ele tem uma espécie de coesão individual. Então, você, indivíduo, tem um conjunto de atributos que sobrevivem a sua morte, mas seu eu, sua memória, não sobrevivem à morte. Se sobrevivessem você se lembraria de sua vida passada.
Agora, um bom raciocínio para explicar que carma é individual é que se não fosse dessa forma nós todos seríamos iguais. Teríamos uma sopa de carma e tudo seria igual. Cada um teria um pedaço dessa sopa, sendo que seríamos como gêmeos idênticos, tendo os mesmo impulsos, a mesma maneira de pensar, os mesmos desejos. Mas não é assim, portanto o carma é individual.
Toda vez que você se olha e diz “eu sou assim”, precisa saber que essas características são herdadas. Começou com algo pequeno, que foi ampliando até chegar onde estamos agora. Todas as suas tendências foram fortalecidas pelas suas próprias marcas. Se você tiver um hábito e repeti-lo sempre, ele se torna uma marca forte.
Meu primeiro professor, Igarashi Roshi, disse assim: “um homem sai do trabalho um dia, passa no bar e toma cachaça antes de ir para casa. No outro dia ele sai do trabalho, leva um amigo e toma novamente uma cachaça no bar. Outro dia ele sai do trabalho e não pode ir para casa enquanto não tomar uma cachaça”, porque se torna um hábito. Outro dia ele não vai poder dormir sem tomar cachaça, não vai poder viver sem tomar uma cachaça, um dia não é mais ele quem bebe a cachaça, é a cachaça que o bebe. Então tudo o que acontece com você, você constrói. Suas inclinações, seus pensamentos, tudo você constrói.
[Trecho de palestra proferida por Monge Genshô Sensei]