Pergunta – Hoje tive uma sensação diferente com os instrumentos, é como se todos tivessem o mesmo sentido, o de uma continuidade e que nos conduziam para o mesmo lugar, o que isso significa, o que senhor pode me falar sobre esse sentimento?
Monge Genshô – Nada.
Pergunta – Mas existe algo de concreto no meu sentimento, digo, é correto?
Monge Genshô – Claro, mas se você me dissesse que são separados e cada um tem um significado eu daria a mesma resposta. Está certo. Fique com seu sentimento, mas não use sua mente racional para tentar explicar, é neste ponto que nos perdemos. Apenas sinta. Isso se parece com aqueles relacionamentos em que está tudo maravilhoso até que um dos dois, geralmente a mulher, quer discutir a relação. Pronto, é começo do fim. Está tudo maravilhoso até que tentamos explicar, apenas sinta.
No Zen estamos à procura de um sentimento puro, límpido, que não precise de explicações. Há a história de um grande mestre zen que era um erudito, sabia muito sobre a história do Zen e sempre lia muito, conhecia as escrituras e sabia todos os sutras de cor. Um dia ele chega para seu professor e diz que iria desistir, não havia conseguido alcançar a iluminação e por isso iria se retirar para um eremitério na montanha. Largou os estudos e apenas dedicava-se a fazer seus trabalhos diários. Um dia varrendo o chão, uma pedra foi arremessada pela vassoura e bateu num bambu produzindo um som característico. Neste instante ele despertou. O despertar é muito simples, difícil, mas muito simples.
Pergunta – O que são os chamados seres sencientes?
Monge Genshô – Seres quem sabem que existem. Seres cientes de si.
Pergunta – Então os animais não são?
Monge Genshô – Sim, por que não? Um chimpanzé se reconhece no espelho. Isso é muito interessante, as pessoas querem colocar tudo do lado de fora, quando tudo está do lado de dentro. Algumas pessoas dizem que não são felizes por esse ou aquele motivo. É como alguém que vai à frente do espelho e vê seu rosto sujo, então pega um pano e limpa o espelho. Vemos dificuldades e problemas lá fora, até nos darmos conta que temos que limpar o rosto e não o espelho. Isso é decorrente da questão “sermos cientes de nós mesmos”. Muitos de nós parecemos seres sencientes, mas não somos, só olhamos para fora o tempo todo. Isso dá sentido à frase de Saikawa Roshi, “peixes são verdadeiramente peixes, pássaros são verdadeiramente pássaros, só os homens não são verdadeiramente homens”. Eu fico imaginando se eu fosse um pássaro e tivesse a mente que eu tenho, nunca conseguiria pular do ninho para voar pela primeira vez. Ficaria sempre cogitando sobre minha capacidade de voar.