Sentamos para despertar | Monge Genshô

Sentamos para despertar | Monge Genshô

Virtualmente estamos com um grande número de praticantes decididos a tentar praticar todos os dias sem falhar. Inevitavelmente por circunstâncias que surgirem poderão faltar um dia ou outro, mas o nosso desafio é tentarmos sentar todos os dias.

O fato de sabermos que pessoas em todo o país estão sentadas juntas, firmemente imóveis, deixando que suas mentes repousem em um nível mais profundo fortalece a determinação de todos nós. Devemos sentir como se estivéssemos ombro a ombro com todos os outros.

Somos como uma floresta de pinheiros, lado a lado, isso nos faz mais retos e direitos. Não temos uma mente que observa, ela é pura ilusão nossa, porque estamos aqui vivos e temos um cérebro funcionando, temos os nossos sentidos trabalhando por mais que tentemos diminuir os estímulos, ainda temos a sensação de “eu sou”, mas isso é apenas produto da operação de nossa mente, devemos estar conscientes disso.

Não existe também uma outra mente fora de nós ou verdadeiramente nós que observa esta mente. Só existe esse funcionamento. Aquilo que dizemos nosso verdadeiro eu é o universo inteiro ao qual pertencemos a tempos incomensuráveis, mesmo do ponto de vista físico.

Tudo dentro de nosso corpo que não seja hidrogênio e hélio foi produzido em explosões de supernovas em gerações de estrelas anteriores à existência do nosso sol. Portanto, nossa existência real mede-se em bilhões e bilhões de anos e a flutuação de uma mente pensante é apenas um fenômeno de agora, produzida por esse fenômeno de existência que somos.

Sentamos para despertar dessa existência fugaz que os textos dizem: como uma bolha, como um orvalho da manhã, como um relâmpago. Dentro de tempos imensos esse pequeno fenômeno de agora desperta e pode perceber-se como o universo inteiro. Então nosso grande engano é esse eu. Não devemos tentar aniquilá-lo e nem somos inimigos dele, pelo contrário ele é muito necessário neste momento, ele é nosso veículo, mas compreendê-lo com a sua consistência de sonho é que é necessário.

Como um grande mestre disse: “sou um ser de sonho falando para seres de sonho”.

Sentados em zazen repousamos e acalmamos a efervescência de nossas percepções para irmos para um patamar mais profundo e amplo de percepção.

Para irmos além desse eu evanescente, onírico, como uma fumaça. Ir além é como se tivéssemos engolido a própria eternidade. Aquele que desperta liberta-se das angústias de nascimento e morte. Como diz o Sutra do Coração: “vê desaparecer toda dor e toda agonia”.

Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, abril de 2021.