(Final)
Pergunta – Se o zen não está nas palavras, onde está?
Monge Gensho – Na sua almofada. Essa é uma boa resposta. Leve uma almofada para casa, coloque na frente da parede em um lugar qualquer. Não precisa de altar, nem de incenso, não precisa de nada. Você só precisa da almofada e de seu corpo. Sente-se para praticar zazen. Determinadamente, aí o zen estará realmente presente. É isso, simples assim. É que nós pensamos muito e somos muito indisciplinados, então precisamos da sangha, e todos sentam-se juntos, daí reforçamos nosso propósito. Aqueles que abandonam o grupo desistem com facilidade. É muito difícil praticar sozinho, sem um grupo para nos encorajar, por mais problemas que nossa mente perturbada veja nos professores e colegas, na instituição em si.
Às vezes surgem perguntas tolas, dúvidas. E quando a gente tem um professor, senta na frente dele e abre a boca para falar, às vezes é uma dúvida que nos inquieta há meses e quando abrimos a boca nos damos conta que a pergunta é tola. Mas você só se dá conta disso quando chega na dele frente para fazer a pergunta. Então você precisa sentar na frente de alguém e todo aquele discurso que aconteceu na sua cabeça antes, de repente, parece uma enorme bobagem. Então nós precisamos de professores, precisamos de sangha, de grupo, precisamos do dharma, dos livros, dos ensinamentos, de ritos, precisamos saber que existiu Buda e que ele era um homem como nós e que tinha os mesmos tipos de problemas e que se ele resolveu, nós também podemos resolver. Que ele não é nenhum Deus, nem profeta, nem sagrado, nem nada para ser adorado, mas que é um exemplo do que nós somos capazes. Nós temos a capacidade de acordar. Todos estamos profundamente tomados por essa capacidade. Mas sem a prática ela não se manifesta, por isso precisamos da prática. Não adianta sentar no bar, pedir uma garrafa de cerveja e explicar brilhantemente sobre o zen. Tem gente capaz de fazer isso, eles lêem vários livros, se reúnem nos bares e discutem – Porque o zen diz isso e o mestre tal falou aquilo, porque o budismo, porque o taoísmo… – Eles sabem muito, e não sabem nada.
Esses dias alguém me rememorou uma história típica do zen. Encontraram-se a beira de um rio, um mago, um yogue e um mestre zen. E o yogue disse: “Vou mostrar à vocês como se atravessa um rio”. Elevou-se no ar e pousou na outra margem. Então o mago disse: “Isso não é nada”. Foi até a beira do rio e foi caminhando por sobre a água até o outro lado. O mestre zen, olhando tudo aquilo, arregaçou a roupa, entrou no rio e foi com muita dificuldade, caindo, tropeçando, nadando, até que chegou a outra margem todo ensopado. Começou a torcer a roupa, olhou para os dois e disse: “ Vocês não sabem nada sobre atravessar um rio”.
14/05/2011
Monge Genshô
Palestra decupada de gravação por Ápio San e revisada por Eleonora San.