O comentário importante é que nós estamos sentados aqui e as mentes estão agitadas, ainda que sentados os pensamentos ficam retornando. E se vocês pensarem sobre o sentido, vejam se não é assim – Pensei isso, considerei isso. E a medida que o sesshin (retiro) vai avançando esses pensamentos vão sumindo. São bobagens, considerações sobre o futuro ou passado e são nossa perdição. Não somos felizes porque não conseguimos ficar completamente no momento presente. Se conseguíssemos agarrar esse momento presente com nitidez, obteríamos uma presença perfeita e uma felicidade perfeita. Nossa mente não estaria turbada com as considerações passadas.
É como encontrar um inimigo na rua, um inimigo do passado, mas com uma mente nova que surgiu da prática, olhar para o inimigo e ver apenas um ser por quem você sente compaixão, afeto e que no fundo é você mesmo, você sente isso. Olhar para essa pessoa e ter todos esses sentimentos de irmandade perfeita, de unicidade perfeita, sem nenhum sentimento de ódio, nenhum mau sentimento. É claro, nossa maneira de sorrir e cumprimentar parece absurda e incompreensível para aquela pessoa, mas seu sentimento é puro, completamente puro, não está conspurcado por pensamentos quaisquer de aversões que você cultivou.
Se você conseguir ter essa visão das pessoas com quem você teve algum atrito ou qualquer sentimento negativo, então aí você esta realmente conseguindo ser um praticante Zen. Caso contrario você será apenas alguém brincando de fazer meditação. Senta e quando está sentado pensa – Eu ainda me vingo. O que você tem que fazer? Olhar essa mente de dizer – Por que é que eu me perturbo, porque é que me incomodo com essa pessoa? De onde vem isso? Você irá descobrir que vem de sua vaidade, seu apego, da sua possessividade, do seu desejo de retaliar, quaisquer desses sentimentos menores todos baseados numa única pedra fundamental, a pedra do ego, do egoísmo, do eu separado. Eu não sou o outro, não compreendo o outro, não perdôo o outro, não tenho compaixão pelo outro etc.
Noto que as pessoas tem grande amor, sentem amor por filhotes de animais, são inocentes, não agressivos, são carinhosos, todos querem pegar filhotinhos de cães e gatos. Mas basta que eles tenham algo mais, uma personalidade qualquer ou se tornem adultos que isso desaparece, porque passam a ser ameaçadores para nossos próprios egos. Nossos egos não querem egos que venham a competir conosco. Somos carinhosos com quem é muito frágil, mas não com aqueles que são como nós. Nossos desafetos são sempre pessoas como nós, em quem nós vemos alguma rivalidade. Aí que estão as manifestações de nosso ego. A verdadeira prática é a modificação dessas atitudes, desses pensamentos.