Pergunta: O que é um “kalpa”?
Monge Gensho: Um “kalpa” é um termo para explicar um tempo excessivamente longo, o tempo de um mundo, mas um “éon” é um tempo de existência de uma era. São termos figurados para explicar tempos muito, muito longos. Mas no estado presente de “Voltando à fonte”, a consciência começa a funcionar de novo em um estado mental purificado. É como aplicar um pincel sobre uma folha de papel em branco; cada pincelada se destaca com pleno brilho. Se escutamos música, nos soa como incrivelmente linda. É um estado de samadhi positivo em que o kensho tornou-se permanente. O que se diz do Tathagata será certo para você, encontrará o rosto de Budha para onde quer que dirija seu olhar. Até ontem necessitava de um grande esforço para desenvolver o estado de samadhi absoluto e um controle feroz de toda a atividade da consciência. Agora deixa que ela se abra alegremente em toda sua plenitude. Porque a consciência tornou-se límpida, o kensho é permanente e a isso se chama “satori.” Assim, satori é kensho permanente, tudo o que olhamos é perfeito, tudo o que ouvimos é lindo, não existe mais nem bem nem mal, certo ou errado. Todas essas coisas são tão transitórias que o que parece mau é bom.
Observação: (…) Kensho é uma breve iluminação?
Monge Gensho: Sim, isso é o que significa, um kensho é uma experiência de iluminação curta. Você sai ali no jardim e, de repente, olha para uma flor. Você praticou o samadhi durante um bom tempo durante o sesshin, e você olhou pela janela, viu a árvore dourada e imensa alegria, contentamento, sentimento de perfeição, felicidade absoluta, surgem dentro de você. Isso pode durar segundos.
Observação: (…) Sempre assim curto?
Monge Gensho: Não, pode durar três horas, um estado desses. Isso é um kensho. Ele finda. Satori, é permanente, todo o tempo você está assim. Satori é sinônimo de iluminação completa.
Pergunta: Uma pessoa que tenha tido um satori pode voltar a ter pensamentos perturbadores?
Monge Gensho: Podem surgir pensamentos que seriam perturbadores, mas simplesmente não são mais.
Observação: (…) Samadhi já é realização espiritual?
Monge Gensho: Não, Samadhi é concentração. Você senta em zazen e treina ficar em samadhi, tenta ficar. Quando você está no momento presente, concentrado no momento presente, sem cogitações, isso é samadhi. Quando você esta em zazen, pode ser que no período de quarenta minutos você consiga isso por alguns segundos. Pode ser que você faça zazen e não entre em samadhi em tempo algum. Você senta e só tem pensamentos inquietantes, luta, luta e a mente não pára. Setsugen diz que se você conseguir ficar em samadhi quarenta ou cinqüenta por cento do tempo em que você está sentado, a iluminação esta próxima. Mas eu diria que o kensho pode surgir mesmo com um samadhi ainda limitado, porque ele não depende muito da quantidade. Um bom samadhi e, de repente, kensho. Mas o kensho é evanescente. Então, kensho não é tão impossível de obter, na realidade, é deveras comum. E até para pessoas que não praticam zazen, ele pode ocorrer. Em determinadas circunstâncias, em oração, ou passeando no campo, de repente uma grande felicidade, uma sensação de perfeição absoluta, uma comoção e aquilo surge; a pessoa nem sabe direito como explicar. Se você conta para alguém que já experimentou a pessoa entende, é mais ou menos como orgasmo. Se a pessoa não teve, pede explicação. Quem já teve, não pede explicação, porque quem teve sabe o que é. Quem não teve não sabe e não adianta explicação. Talvez no dia em que tenha ela diga: “Ah, é isso!” E o kensho é exatamente assim também, uma experiência intransmissível para quem não teve.