Pergunta: há como mudar nossa forma de raciocinar? O budismo pode me ajudar com isso? Eu acredito que minha educação tenha sido bem cartesiana – quando eu era criança, se a criança perguntasse demais na escola, os professores já diziam: “Você só faz pergunta?”, e então quando eu me pego lendo um koan, trava o cérebro, porque me parece um outro tipo de método.
Monge Genshō: porque essa é a intenção do koan, é mostrar que os seus conceitos normais, os raciocínios comuns, não vão funcionar. O que nós estamos querendo é uma outra apreciação, que pode ser comparada à apreciação de um salto intuitivo que acontece ao se ouvir uma anedota.
O que acontece numa anedota? Se você explicar não tem graça, não é verdade?
Um homem vem numa rua, vai entrar numa casa, tem um corredor comprido e uma placa: “cuidado com o papagaio”. Então ele abre o portão e entra em um corredor comprido, tem um ninho no meio do corredor com um papagaio lá. O papagaio olha para ele, ele olha para o papagaio… O papagaio diz: “Pega Rex”! (Risos).
De onde vem a graça? Todas as mentes estavam pensando no papagaio e de repente quando o papagaio diz, você entende que é outra coisa, e essa compreensão instantânea sobre essa outra coisa provoca um salto de compreensão. Manifesta-se o riso, a surpresa. Essa é a compreensão intuitiva. Se a pessoa disser assim: “Como? Quem é Rex? Por que que o papagaio diz isso?”, Rex é nome de cachorro, ele chegou por um corredor estreito, não vai poder escapar do cachorro. Mas se você explica isso a pessoa diz: “Ah, tá!”, e será sem graça. Por quê? Porque não existiu o salto intuitivo.
A graça da anedota está nisso, no salto intuitivo. O koan também: se você não der um salto além do raciocínio, da explicação, o koan não funciona, e por isso nenhuma explicação racional resolve o koan.
O koan é propositalmente feito assim para que haja um salto de compreensão que não passa por uma mente explicadora, cartesiana. A resposta do koan tem que ser de tal jeito que ela também seja surpreendente.