Aluno – O senhor poderia falar um pouco mais sobre o caminho do meio?
Monge Genshô – O caminho do meio, é o caminho budista. Isto é caracterizado por uma célebre história de Buda, uma metáfora. Você tem uma cítara, um instrumento musical. Se você aperta demais a corda, ela não toca, pode arrebentar. Se você aperta de menos, você não consegue som. Então deve afiná-la no tom justo e para afinar um instrumento no tom justo, existe um meio. Os instrumentos musicais são afinados com a nota “lá”. Quando uma orquestra vai tocar, o primeiro violino, o spalla, toca o “lá” para toda orquestra. Ela é afinada ali, naquele momento. Por que os instrumentos não vêm afinados lá de trás? Porque ali temos outra temperatura e os instrumentos com pequenas variações de temperatura mudam sua afinação. Então o spalla dá o “lá”, e todos afinam. E esta é uma nota média. A partir do caminho do meio nós podemos produzir música. Quando nós exageramos para qualquer lado, nós não conseguimos.
Mas isto é muito típico na prática espiritual. Se você tentar ser um santo perfeito, não cometer nenhum erro, não ter nenhum pensamento errado, não dizer nenhuma palavra errada e punir-se cada vez que você comete um erro, você não fará mais que viver em culpas, tentando ser um santo. No Zen nós dizemos que não queremos santos. Nós queremos pessoas despertas e pessoas despertas riem dos seus erros. Eles não querem ser santos, sabem que cometem erros, sempre. Do outro lado, algumas pessoas imaginam: o budismo não tem pecado, não tem mandamentos, nem um Deus para nos castigar, não existe um inferno nos esperando nem um céu para nos premiar, então tudo é permitido e poderei fazer o que EU quero.
Este é um grande erro, porque Buda disse: para evitar o sofrimento você precisa seguir tais caminhos, e ensinou o Caminho Óctuplo. E este caminho é composto de muitas regras morais e virtuosas. Regras para falar, para pensar, para agir, trabalhos para viver, o que é bom e o que não é. Buda não escapa do certo e errado no Caminho Óctuplo. Você não pode ficar com algo que não lhe é dado espontaneamente, ou seja, você não pode roubar. Se você roubar, isto será um caminho para grande sofrimento. Existe certo e errado, bem como regras. Então o Caminho do Meio é um caminho de moderação, nem o exagero do ascetismo, da tentativa de ser um santo, nem o caminho da licenciosidade, onde tudo é permitido e corremos atrás de prazeres. Isto é o Caminho do Meio.