P. Mas a gente vê este ego como uma coisa sólida, eu tinha botado um dente de leão no altar e parecia uma coisa só, mas não é, na hora que a gente dá um soprão isto se espalha e aí cadê este ego?
R. É exatamente assim.. a pergunta de.Shuryu Susuki é para onde vai meu punho quando eu abro a minha mão? Meu punho é só uma formação, mas para onde vai quando eu abro a minha mão? O ego só existe como potência, como possibilidade de manifestação, de agregados, mas verdadeiramente não nascemos e não morremos, não existe isto, como na imagem que eu fiz das bolhas dentro da garrafa de champagne, é gás carbônico, vai embora? Não, não vai embora. É bolha momentaneamente, mas todo tempo gás carbônico, a analogia não é perfeita porque em termos karmicos estes quantuns de karma se manifestam novamente porque tem grande energia de coesão, não chegamos a dizer que isto é ego, mas você manifesta uma nova vida com as características que você tem porque existe uma coesão desse karma individual, o ego é outro, mas o karma é o mesmo…
P. Tem um jogo do RPG que tem um personagem vai lá queima, constrói, daqui a pouco aquele morre e tem que fazer outro, vai ser outro nome, outro jeito, outra profissão, mas tem alguma essência de quem está construindo que vai ter semelhança, dá para pensar alguma coisa assim?
R. É mais nítido. A imagem usada no budismo é a da fruta, a semente da manga, Nagasena responde assim num famoso sutra que é o Milindappada, Nagasena responde ao rei Milinda, Milinda provavelmente é o rei Menandro que governou aquela região do Afeganistão depois das conquistas de Alexandre – O Grande, Nagasena é um mestre budista e ele diz para ele: manga tem uma semente se plantamos uma semente nasce outra mangueira que dá mangas praticamente idênticas à mangueira anterior: é a mesma mangueira? São as mesmas mangas ou não? Então as sementes kármicas que nós plantamos manifestam uma vida quase indistinguível da nossa, as mesmas características, os mesmos impulsos, se nós não mudamos os impulsos é a mesma vida ..