Aluno: Eu tenho curiosidade de saber como se dá a dinâmica entre o professor e o aluno do Zen?
Monge Genshô: No primeiro estágio não tem essa relação de professor e aluno, quando fazemos dokusan é um amigo que se senta na minha frente e que compartilha experiências. Tornar-se aluno é quando você adota a seguinte postura: “ele é meu professor e eu estou aqui para aprender, se ele disse algo que não concordo vou pensar que eu estou errado até eu entender, mesmo que levem anos”. Formalmente, no nosso caso aqui, é quando você faz o rakusu, assim como a Rachel. Já que ela é minha aluna, ela me escreve como tal, me trata como senhor e a atitude é diferente. O professor também cuida do aluno como se fosse um filho.
Tem um outro nível mais alto que é quando você recebe a transmissão do seu Mestre e então você é reconhecido pelo seu Mestre como uma pessoa que tem a mente dele. A cerimônia dura sete dias e tem uma ocasião em que ele diz exatamente isso: “você tem a minha mente” e isso vem desde Buda. Alguns Mestres tiveram só um discípulo, ou seja, transmitiram para apenas uma pessoa, assim como há Mestres que não transmitiram para nenhum aluno e nesse caso a linhagem desaparece. Saikawa Roshi é Monge há mais de 40 anos e transmitiu para seis Monges. Mas mesmo que você seja Monge e tenha se graduado para receber a transmissão, você só a receberá se o Mestre decidir passar essa herança para você, como se transferisse o Dharma.
Quando eu estava no Japão, Saikawa Roshi me instruiu os lugares que eu deveria ir, como eu deveria fazer as cerimônias e depois me disse que eu deveria fazer uma doação de 50 mil ienes em cada templo. Eu disse: “não tenho esse dinheiro, não me preveni para isso” e no dia seguinte recebi pelo correio um envelope com 150 mil ienes e mais instruções. É assim que o Mestre age. Você recebe tanta coisa que fica difícil retribuir. Você é o continuador da obra dele, dessa forma é como se vocês aqui fossem os netos de Saikawa Roshi.