(…)Pergunta: Uma curiosidade! Há escolas budistas que falam em reencarnação de Buda, como a de Dalai Lama. Mas, então seria um outro mestre que se reencarna? Porque se colocou na mídia que é sempre Buda?
Genshō Sensei: Se você perguntar para ele, ele vai dizer que não concorda. Essa tradição de reconhecimento de manifestações de mestres mortos pode ser muito bonita na tradição tibetana, mas hoje ela causa problemas porque a pessoa torna-se adolescente e não reconhece mais aquilo. Já aconteceu esse episódio.
Enquanto estávamos limitados àqueles tempos anteriores no Tibete, em que o País estava se fechando. Uma pessoa reconhecida como uma nova manifestação de um mestre passado era tratada como mestre todo tempo. Ele era na prática transformado numa pessoa especial pela sua criação e pela sua educação. Como aconteceu com o Dalai Lama, que eu conheço pessoalmente. Ele desde a mais tenra infância ficou ao lado de mestres sendo ensinado. Então, ele tem uma formação maravilhosa! Como é que nós vamos repetir isso, nesse mundo de agora? Então, ele mesmo disse que era o último nessa sequência de Dalai Lamas. Porque tornou-se inviável o sistema no mundo atual, ainda mais com chineses querendo escolher os Dalai Lamas, e os Karmapas que eles querem. Todas estas interferências criam problemas muito sérios.
O sistema do Dalai Lama, também era um sistema que um mestre budista, ao mesmo tempo, era um líder político. Nesta sequência atual de Dalai Lama, ele é o décimo quarto. Mas cinco anteriores foram assassinados, então não é brincadeira. Alguns desses foram pessoas bem complicadas.
No zen não existe essa tradição. Tem várias coisas que no zen não existe. Inclusive essa tradição que é tão forte no budismo tibetano, a o guru ioga, guru é mestre, representação da perfeição. Se o guru é a pessoa perfeita, e você olha para ele e o vê fazendo uma coisa errada, é porque foi um ensinamento. E então você reverencia, Buda, Darma, Sanga e Guru. O guru senta num trono, acima. No zen, o professor senta na mesma altura e quando o aluno vem dizendo “acontece comigo isso assim” eu digo: “acontece comigo também”. Alguém diz: “eu perco a paciência” e eu digo “também perco a paciência, porque na verdade eu sou como vocês”. A única diferença, que a gente possa apontar, é que tem 40 anos que eu estou dentro do budismo. Desde 1973. E me tornei um monge em 2001. Fui a monastérios, então tive a preparação e um caminhar mais longo.
Quando a gente diz “Sensei”, a palavra Sensei literalmente significa: mais antigo, ou o que veio antes. Por isso, pode-se ajudar as pessoas. Mas eu cometo erros e acho isso muito, muito cômodo. A situação do guru é uma coisa horrorosa. Porque quer parecer sempre certo, sempre perfeito. Ontem de noite eu comi demais, então tive dor no estômago hoje. Sou igual as outras pessoas, isso que é a verdade! E acho muito cômodo dizer isso e não precisar fingir alguma coisa extraordinária. Essa é a tradição do zen! Então, no Zen, não existe essa chamada “guru ioga”! Talvez isso seja a maior diferença. (…)
Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, 31/05/2018.