Aluna: Mas se eu entendo o “eu” como uma onda cármica… Não posso?
Monge: Não, o “eu” não é uma onda cármica. O “eu” é provocado pela operação da mente. Por que eu estou operando agora, pensando assim, tenho memória? Eu tenho a ilusão de que existe um “eu” que se sustenta com isso. Mas ele é extremamente frágil, tanto que se eu tirar uma das pernas dele, como a memória, não tem mais um “eu” ao qual se referir, você não sabe quem é. Se eu pergunto “quem é você” você não sabe. Aliás, não sabe agora, não é? Se eu perguntar para qualquer pessoa, “quem é você?” a pessoa responde com o seu nome. E a gente diz “não, esse nome é um rótulo, que a sua mãe lhe deu, estou perguntando quem é você, além do rótulo, o que tem dentro da garrafa. O que tem? Diga-me, quem é você mesmo?” A pessoa diz, profissão, o que aconteceu na vida, qualquer coisa assim, ela começa a dizer as coisas que sustentam o seu “eu”. Eu me lembro de uma vez um rapaz me disse assim “eu sou esse corpo aqui”. Eu disse “Bom, se você é esse corpo e nós cortarmos um braço, tem menos você aí, não é? Ou ainda você está inteiro aí?”. “Não, eu ainda estou aqui, inteiro.”. “Então você não é o corpo. Posso trocar o coração, trocar o fígado, colocar braços e pernas artificiais. O que der para trocar, dá pra trocar. O que não dá pra trocar é por obstáculos técnicos. Mas dá para trocar tudo! Que nós saibamos, só não dá para trocar o cérebro.