Quem carrega o Carma? | Monge Genshô

Quem carrega o Carma? | Monge Genshô

Pergunta: Não sei se dá para dizer que o impulso cármico é isto, tirando essa diferença conceitual de levar o “eu” para outras vidas ou criar novos “eus”, mas podemos fazer uma analogia entre impulso e a busca de uma alma, ou alguma coisa que continua?

Monge Genshō: vai atrapalhar, vai parecer que existe uma coisa que é indivisível, permanente, que haveria algo permanente que carrega carma, mas não é assim. Só existe o carma, o impulso, a energia, o movimento. Não existe algo que carrega. Nós queremos sempre perguntar: quem é que carrega o carma? É como se você perguntasse: quem é que carrega a energia da onda? A energia faz a onda, a onda só existe por causa da energia, elas são indissociáveis. Você não consegue separar a energia da onda, a energia cinética da onda pode ser separada da onda? Não. Se eu separar não existe nem uma, nem outra. A energia cinética só é carregada pela onda, se eu retirar a água, onde está a energia cinética, se eu retirar a energia cinética onde está a onda? São indissociáveis em termos físicos, não é tão difícil de entender.

Num redemoinho de vento, se eu retiro o movimento, eu não tenho o redemoinho; se eu retiro o ar, não tenho o redemoinho – o redemoinho só existe associando as duas coisas: o ar e a energia cinética que o gira. Da mesma forma, eles são indissociáveis, e é a mesma coisa com o carma. O carma só pode se manifestar na matéria. Se você retirar um, retira o outro. Então, seu carma, assim que você falece obrigatoriamente tem que se manifestar. Tudo está sempre mudando, tudo é fluxo, está sempre se alterando, se recompondo de outras formas, de múltiplas formas, sem parar. Seu próprio corpo é muito velho, tudo que o constitui é muito velho, todo oxigênio, hidrogênio, ferro e tudo mais, são velhíssimos, mais velhos do que a existência da Terra, mais velhos do que a existência do Sol, do planeta, porque todos os átomos pesados foram fundidos em supernovas no passado, numa geração anterior de estrelas. Nós podemos recuar até o início desse universo, que do ponto de vista budista também só pode ser cíclico, com surgimento e aparecimento de universos sucessivos. Não pode ser do nada, só pode ser contrações e expansões, não pode ser diferente.