Monge Genshô: Nós transitamos neste mundo usando máscaras, todos os “eus” são fantasias. É isso que temos que entender, que nós pensamos que a fantasia é verdadeira. Eu chego lá no quarto tiro o Koromo, ponho no cabide. Vocês já pensaram se eu sentasse na cama assim, e olhasse para o cabide e dissesse “ali está o monge”; não é verdade, não está nem lá, nem aqui, é uma interação dessas coisas, é um papel. Portanto o “eu” é uma fantasia para transitar no mundo, útil, mas não é uma realidade, é vazia de significado. Nenhuma coisa no mundo, nada, tem um eu inerente, próprio.
Tudo é interdepentende. Nada, todos os “eus”, são construções mentais, por isso que a gente diz “vazio de um eu, que todos os seres estejam vazios de ego”. Nós também dizemos que o doador deve fazer a oferta e esqueça, e que quem recebe, receba e esqueça. Que a oferta mesmo, que a comida mesmo, seja esquecida da sua identidade própria; todas as coisas são uma, nenhuma coisa é separada, nós apenas nos iludimos pensando que somos separados, mas somos um, é por isso que a gente faz treinamento no sesshin, assim todo mundo faz tudo junto, todo mundo senta junto, ninguém pode faltar a nada, ninguém pode dizer “eu gosto dessa comida, dessa eu não gosto”, ninguém pode dizer nada sobre isso, porque tem que esquecer de si mesmo para poder sentir um pouquinho o gosto do um. (continua)