Na foto mestres zen de todo o mundo ladeiam Saikawa Roshi (de branco ao centro) no cinquentenário do Templo Busshinji em SP
Respostas do Grande Mestre do Zen Saikawa Roshi em uma palestra em Florianópolis:
1) Se a dor, como o Senhor falou, é um caminho para que a gente veja a inexistência do ego, esse vazio não abraçado não faria essa própria dor não existir?
Saikawa Roshi – Mesmo que a dor exista, sua raiz pode ser cortada. Com a aceitação de vida e morte, vida existe e morte também existe. Se você realmente vê isso, pode ir além, poderá ir além da raiz e o sofrimento poderá ser cortado.
2) Essa sensação de incompletude, que parece ser inerente à vida humana, tem como origem nossa visão das coisas de forma dual?
Saikawa Roshi – É muito bom ter este sentimento, pois pode impulsionar sua prática. Nos sentimos incompletos na nossa vida diária e este sentimento é que nos dá energia para praticarmos, mas durante o Zazen você pode ir além de sentir-se completo ou incompleto, você pode ir além da dualidade. Nesse sentido podemos sentir nossa completude praticando zazen. Somos cem por cento iguais a Shakyamuni Buda. Quando ele sentia sede, sentia sede exatamente como nós, sentia fome da mesma forma que nós. A diferença é que ele realmente viu dentro de si mesmo e tornou-se como um espelho vazio, um com todo o universo. Ele foi além da dualidade e pôde aproveitar sua vida. Sofria quando o sofrimento vinha e sorria com a alegria.
3) Se viemos de uma dimensão única e não dual, qual o objetivo de nossa dualidade? Porque temos que passar por essa experiência?
Saikawa Roshi – Não podemos ver os dois lados da moeda ao mesmo tempo. Um lado é não dual, perfeitamente vazio, mas o outro lado é cem por cento dualismo como nossa vida diária. Mesmo neste dualismo da vida diária, nós podemos tentar ver a situação ideal. Nós pensamos quando uma criança nasce, que ela realmente nasceu; mas na verdade a vida é uma continuidade, por isso, na verdade ela não nasceu. “Eu nasci em tal ano” é simplesmente uma expressão. Conforme vamos crescendo as pessoas vão nos ensinando o mundo da dualidade, você é Genshô, esses são seus pais e seus irmãos, esse é um dos lados da moeda. Desta forma, sem perceber a criança vai aprendendo a dualidade. Precisamos aprender a ver o outro lado da moeda através do shikantaza, o zazen. Se você vir o dualismo poderá cortar a raiz de todo sofrimento. Em um lado da moeda estou aqui tentando falar sobre o Dharma para livrar as pessoas do sofrimento.
4) Em minha mente, não existir bom ou ruim é muito difícil de entender. Qual o principal objetivo então, destruir a dualidade ou compreendê-la e saber de sua existência?
Saikawa Roshi – Nossa mente precisa de dualidade para entender as coisas. Para entender sua vida diária você precisa de sua mente dual. Sem usar a dualidade você não conseguiria operar nesse mundo, você precisa julgar certo ou errado, bom ou ruim. Para tentar explicar eu usei a metáfora do transplante, mas para realmente entender você vai precisar de uma experiência e é por isso que fazemos Zazen.
5) Como posso cortar a raiz do sofrimento se ela não é minha?
Saikawa Roshi – Na nossa vida diária dizemos “meu corpo, meu sangue, meu rim, minha mente e minha opinião”. Você precisa ver verdadeiramente a raiz dentro de você porque você diz “meu sofrimento”. Estamos tão tenazmente agarrados ao nosso “eu” que não percebemos que se temos um sofrimento, este é só do ”eu”.
De qualquer maneira estamos sentados e podemos apreciar o zazen, mesmo que sentados não hajam julgamentos do tipo “gosto e não gosto”, podemos simplesmente apreciar o zazen. O zazen nos ensina. Por favor, participem dos retiros, façam zazen. A gentileza das pessoas que frequentam as Sanghas é muito importante porque faz com que outras pessoas que venham à Sangha encontrem um lugar de paz e harmonia. Para criar paz e harmonia, pratiquem zazen e tentem ser um com os outros. Essa atmosfera de paz e harmonia vindas de cada um de vocês é muito importante para a Sangha. Por favor, aproveitem cada momento de suas vidas. Muito obrigado