P: Por quê ordenações oficiais?
R: Porque desde os tempos de Buddha há regras para as ordenações, elas incluem concordância das famílias dos noviços jovens,raspar a cabeça para mulheres e homens, presença de monges testemunhas, ordenação por alguém que foi por sua vez devidamente ordenado e galgou o reconhecimento formal da instituição e de um mestre como realizado espiritualmente. Se uma pessoa, sem este reconhecimento ligado a uma linhagem sólida, faz ordenações, ou se são feitas fora das regras criadas por Buddha, elas simplesmente não são a continuação da linhagem de Buddha e portanto são inválidas.
Para entender melhor imagine encontrar um padre que clame ser um sacerdote católico, mas que você descobre não ter cursado o seminário, não ter sido ordenado por um bispo, não ser reconhecido nem registrado dentro da Igreja Católica, você o tomaria como um sacerdote legítimo?
P: Mas ouvi dizer que Buddha não criou uma religião organizada, que nunca foi buddhista, coisas assim!
R:Isto é desconhecimento dos próprios sutras buddhistas, eles contam detalhadamente que Buddha organizou seus discípulos com regras claras,( o Vinaya), estabeleceu uma extensa regulamentação, criou hierarquia entre seus discípulos, regras de subordinação, vestimentas distintivas, etc… tudo o que identificamos como uma religião organizada.
P: Como o senhor acha que ordenações irregulares, organizações paralelas, professores auto nomeados, serão problemas superados no futuro?
R: Isto não é novidade na história buddhista, já aconteceu no passado muitas vezes, as organizações paralelas tendem a enfraquecer com o tempo pois não tem raízes sólidas. Passados os séculos mal temos referências sobre suas existências, só as ordens oficiais e organizadas sobreviveram. No Brasil, e eu mesmo passei por esta experiência, pois fui ordenado sem registro inicialmente, monges nesta situação que tinham grupos de prática começaram a procurar registro, reconhecimento oficial e ordenações válidas, isto acabará ocorrendo no restante da América do Sul. Sempre que merecido a organização central os acolheu e regularizou a situação. Isto provê a estes religiosos a oportunidade de treinar e progredir além da situação de noviços (Jôza), dá a eles a oportunidade de viajar pelo mundo nas diferentes sedes da Soto Zen Shu, receber apoio em seu trabalho, ascender recebendo novas graduações e mesmo chegar a transmissão da luz, oficial, e vestir digna e corretamente o manto amarelo dos monges plenos (Osho).
P: Mas isto não faz da Soto Zen Shu a “Igreja” do zen?
R: Voltamos a questão inicial, as instituições tem defeitos e inevitavelmente são feitas de homens imperfeitos, porem elas é que realmente preservaram os ensinamentos e conseguiram passa-los adiante. As organizações paralelas independentes tendem a cair em lutas internas por poder, mal crescem um pouco, por esta razão não sobrevivem, falta-lhes a força da linhagem. A Soto Zen Shu,que traça sua linhagem de mestres desde Shakyamuni Buddha, não por acaso, há quase 800 anos sobrevive e criou universidades, centros, mosteiros, são 14 000 templos oficiais, e espalhou o ensinamento zen pelo mundo, sua plêiade de grandes mestres é impressionante, os descaminhos tiveram oportunidade de ser elaborados por uma forte crítica interna que está bem viva nos dias de hoje, esta vitalidade é a seiva da qual podemos todos nos nutrir para preservar o Dharma de Buddha.