Quando Buda andou pelo mundo ele era um homem comum, normal, sendo assim a forma como os primeiros Sutras o tratam. Esse conjunto de Sutras chama-se “O primeiro cesto”. Existe então, um conjunto de escrituras que se chama “Tripitaka”, que significa “Os três cestos”. “Tri” em sânscrito quer dizer três e não por acaso se parece com o nosso três, pois o sânscrito é parente do português, como vimos na palestra de sábado sobre o “Trikaya”, os três corpos.
O primeiro cesto são os “Sutras” – os discursos de Buda. Sutra literalmente quer dizer “fio” e dele derivou a palavra Sutura, que significa “costura que é feita com fio”. Por que então Sutra? Porque podemos seguir a linha do ensinamento como seguimos um fio.
O segundo cesto chama-se “Vinaya” – o cesto das regras monásticas. À medida que o tempo ia passando iam sendo criadas novas regras, exemplo, quantos mantos os monges podem ter? Definiu-se que quatro mantos seriam suficientes e, assim por diante, foram sendo criadas regras de conduta e regras para ordenação monástica, como por exemplo, a de que um monge não poderia ser ordenado sem a anuência de sua família. Os jovens monges só poderiam ser ordenados se os pais concordassem. O homem casado que resolvesse ser monge só poderia o ser, com a anuência da esposa e um monge só poderia ser ordenado na presença de outros cinco monges. Com isso temos mais de trezentas regras para as mulheres e duzentos e cinquenta e poucas para os homens. Por que essa discriminação com as mulheres? Porque os homens não menstruam e nem engravidam, essas regras eram ligadas a ter que cuidar dos filhos e coisas típicas da condição feminina.
O terceiro cesto chama-se “Abhidharma” – os comentários feitos por seguidores de Buda sobre os ensinamentos. O mais interessante desse processo todo é que congelou-se no Tripitaka, o cânone mais antigo, os discursos em que Buda aparece como um homem que vem e senta, passa os ensinamentos e que, eventualmente, alguém lhe faz perguntas ou discorda. Ele responde e nunca se furta a um debate. Algumas vezes recusa-se a responder dizendo que o assunto em questão não interessa ao que ele se propõe a ensinar. Perguntas do tipo, “Qual a origem do mundo?”, “O que acontece após a morte?”, “Deus existe?”, não eram respondidas sob o argumento de que não eram verificáveis. Ele dizia que seu ensinamento era sobre a origem do sofrimento, sua cessação, felicidade, iluminação e o despertar. Esse é o assunto que tem real importância, dizia Buda. Outros assuntos não interessavam ou não eram de sua alçada, eram de responsabilidade de oleiros, cientistas ou guerreiros. “Qual a melhor maneira para se fazer uma ferradura”? “Não sei, pergunte ao ferreiro” era sua resposta.