As dificuldades que surgem a partir da experimentação de eventos como o Kenshô é que as pessoas começam a achar que você tem algum parafuso que não está bem apertado, porque você não está interessado no mundo do samsara, você começa a se interessar no mundo do céu azul. Aquele mundo é que é o mundo real, só que as pessoas que estão no mundo do samsara acham que a realidade é o mundo do samsara, eles acham que a realidade é aquela, e por isso elas não conseguem entender muito bem o que está acontecendo com você.
Então você tem que saber ser suficientemente compassivo para entender o mundo do samsara, sem dizer ‘você está enganado, é pura ilusão sua’, etc, você tem que dizer que entende. Se alguém diz que está sentindo uma paixão, você diz ‘ah, eu entendo, posso me recordar, já me senti assim, eu sei como é, o jeito que você pode lidar com essa paixão é assim’. Você pode ensinar alguma coisa do Dharma para essa pessoa. Você não pode dar a ela, toma aqui o kenshô, toma aqui o samadhi, porque é invisível, a pessoa não pode ver.
É por isso que se cria a situação em que aquele indivíduo que experimenta e que conhece o kenshô e o satori, ele pode identificar outro indivíduo que também experimentou, porque quando os dois começam a falar ele vê no outro, instantaneamente, que o outro está vendo, o que ele vê. Então só um Buda enxerga um Buda.
Há uma história de um mestre que é convidado por um rei, e o rei está com raiva dele porque os súditos estão indo para mosteiros, e ele precisa de soldados, e estava perdendo soldados para os mosteiros. O imperador olhou para o mestre zen e disse: eu estou olhando para um porco. O mestre zen olhou para ele e disse ‘eu olho para o senhor, majestade, e vejo um Buda’. E o imperador perguntou como isso. E o mestre zen respondeu que cada um só pode enxergar o seu mundo. É como o ditado coreano: olho de cachorro só vê poste. Se você tem olho de porco só enxerga porcos. Se tem olho de Buda, olha para o outro e enxerga Buda. (continua)