Perdas | Monge Genshô

Perdas | Monge Genshô

Vivemos agora momentos de grandes perdas já há muitos meses. 500 mil mortos significa que a cada 400 brasileiros um morreu acima da estatística normal de mortes. Isso significa que considerando uma pessoa em cada 400, todas as famílias brasileiras conhecem alguém que faleceu de Covid-19.

Acabamos de recitar o verso do okesa que fala em libertar todos os seres. Libertar quer dizer libertar das ilusões e do sofrimento. O motivo pelo qual sofremos com as nossas perdas é o fato de desejarmos a permanência e desejarmos que as coisas fiquem sempre como estão, que não existam perdas, nem separações, nem que sintamos que nunca mais veremos aquela pessoa.

Significa que não compreendemos ainda com profundidade a continuidade de todas as coisas e que estamos neste universo nos manifestando de uma forma ou de outra. Há um tempo incomensurável somos manifestações e estamos neste universo. Por um tempo muito grande ainda permaneceremos nele nos manifestando como indivíduos e, ainda mais, em um tempo sem fim e sem início estaremos nessa imensa vacuidade que tudo manifesta. Se conseguirmos ver essa continuidade, essa vacuidade, esses tempos sem início e sem fim, se compreendermos um tempo que está além de passado e futuro e se concentra em um único ponto, como falou nosso grande mestre Dogen, então toda dor e sofrimento terão desaparecido nesta luminosa compreensão. Não há perdas, não é ir e nem vir. Todos estão sempre conosco, nós somos um e o tempo não vai e nem vem, tudo está sempre aqui.

Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, Junho-julho/2021.