Esse conceito de acordar é Hishiryô, que quer dizer “pensar sem pensar”, ou “pensar além do pensamento”. Nós estamos sentados em zazen e pensamentos passam por nós, mas nós não os seguimos nem os agarramos. Não fazemos conexões de ideias. O maior erro é você ter um pensamento e, por causa dele, criar uma outra cadeia de pensamentos, enganchando um pensamento no outro e ir seguindo. Não é assim que deve ser.
Se um pensamento se apresenta, você deve simplesmente descartá-lo, voltar para o momento presente e estar aqui e agora. Quando você está nesse “aqui e agora”, você está fazendo zazen, isso é samadhi. Quando o pensamento surge, você deve deixar que ele vá sozinho embora. Há muitas imagens a esse respeito, por exemplo o céu azul, que não é perturbado pelas brancas nuvens que passam. Você deve ter uma mente como um vasto céu azul. Surge uma nuvem e passa, e o céu azul não é modificado por essa nuvem, nada acontece. Ela simplesmente passou e assim deve ser a sua mente com relação aos pensamentos que passam.
Outra imagem é: os pensamentos entram na casa da sua mente, deixe que entrem pela porta da frente e saiam pela porta dos fundos. Não os convide para tomar chá. Não se sente junto a eles, não pense que eles são você. É porque nossos pensamentos surgem que nós nos confundimos com eles, que nós pensamos que somos aquilo, aquela coisa que está operando no mundo, aquela coisa cheia de ideias e considerações. Como “quem gostar de mim, tem que gostar assim, porque eu sou assim”. Este pensamento é um pensamento de identificação com o seu pensamento, com essa ideia. Você está se identificando com o seu pensamento, achando que você é o seu pensamento, mas você não é isto. Seus pensamentos são alguma outra coisa que estão afastando você de sua verdadeira natureza, que é o grande todo. Nossa verdadeira natureza não é esta pessoa que está pensando aí, agora. Isso é só um fenômeno que quer dar sentido à sua própria existência.
[Trecho extraído de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]