Aluno – Me vem uns pensamentos, por exemplo, antes de vir já começo a separá-los, o que seria bom, o que seria ruim e por que sentiria aversão ao teu inimigo, antes mesmo de ser inundado por essa maré incessante de pensamentos conseguir distinguir o que é bom e o que não é…
Monge Genshô – Enquanto houver essa distinção entre o que é bom e o que não é, ainda estou com aquela mente primeira, a mente classificatória. Aquela mente que aceita integralmente, que vê como no terceiro passo, as montanhas como montanhas e os rios como rios, ela não tem classificações. Se ela classifica em bom ou ruim, ela não é não-mente. É uma mente classificatória, discriminativa, normal, comum.
Aluno – O bom e o ruim, em parte é cultural, né?
Monge Gensho – Sim. Não podemos dizer que algo esta certo ou errado, toda situação é particular dentro de uma determinada circunstância. Se você perguntar – Em tese, o suicídio é certo ou errado para o budismo? – normalmente está errado. Daí contamos a historia do mestre se auto-imolando. As coisas não são bem assim como parecem. Tem uma célebre história, que se conta para crianças no budismo, que Buda era um príncipe no passado e encontra uma tigresa com seus filhotes morrendo de fome. Sem forças até para se levantar. Então ele corta seu braço e deixa que ela beba seu sangue, para que ela recupere suas forças, possa matá-lo, come-lo e alimentar seus filhotes. Essa é uma típica história budista de ato de bodhisatva. Em vidas passadas etc. e através de atos assim ele chegou ao seu carma de ser um Buda. São atos sempre compassivos. Então os julgamentos de certo ou errado, bom ou ruim é uma coisa que não podemos fazer no budismo. Eu estava no Vesak agora e tinha um fórum e uma mulher fez uma pergunta e queria uma resposta. Então o Lama Padma Samten deu uma resposta, outro mestre deu outra resposta e um terceiro deu outra resposta, quando o microfone chegou em mim eu disse – O grande problema no budismo é as pessoas quererem respostas.
O que estava acontecendo? Ninguém respondia, faziam-se considerações, mas ninguém respondia, nem eu podia responder sobre a situação familiar dela. Esse é um problema que ela tem que resolver e tem miríades de possibilidades. Então, se você tem um problema e vai falar com um bom professor budista, como os que falaram antes de mim, para que ele lhe dê uma solução, do tipo “faça isso ou faça aquilo”, você não obterá essa resposta. Você vai chegar com um problema e quando sair terá mais problemas. Porque essa é a tarefa do professor, colocar mais problemas para você – Considere isso, considere aquilo e considere aquilo outro – essa será sua resposta. As vezes dá uma chacoalhada para que a pessoa veja que há outras considerações a serem feitas.