O verso recitado, ao colocarmos o manto, diz: “uso os ensinamentos do Tathagata – que é um dos nomes de Buddha – para libertar a todos os seres”.
É surpreendente a dificuldade para libertar os seres das amarras de sua própria mente.
Os homens tendem a agarrar-se às ideologias, às ideias, aos pensamentos ou aos sistemas, como se fossem tábuas de salvação. E quando se identificam com algo e se agarram firmemente a ele, é como se tivessem colocado algemas, perdem sua liberdade e não podem mais ouvir outras ideias ou opiniões, e muitas vezes querem esmagar ou destruir qualquer coisa diferente daquilo a que se agarraram.
A história da humanidade assim é. O próprio Sócrates teve que tomar veneno – cicuta – acusado de fazer os jovens duvidarem dos deuses. Vivemos tempos um pouco mais libertários, mas os homens continuam querendo agarrar-se. Os budistas devem respeitar as crenças, as religiões, os símbolos de outras religiões e até mesmo reverenciá-los. Se entramos em uma igreja para visitar, nós, budistas, fazemos reverência para as estátuas dos santos ou deuses de qualquer tipo que lá estiverem. Seja aonde for, nossa atitude deve ser reverente e respeitosa.
Na verdade, dentro do Budismo, somos instados a pensar. Ouvir e pensar. Não somos instados a contestar, debater ou defender nossas próprias ideias. Não se trata disso, mas não se trata de perder a liberdade, porque o Budismo é uma construção contínua, e por isso mesmo tem tantas Escolas, porque nada da doutrina diz para perseguirmos aqueles que pensam diferente de nós, mesmo dentro do próprio budismo. Simplesmente somos reverentes com as ideias dos outros, e as aceitamos assim como não nos agarramos às nossas próprias. Assim estamos prontos, sempre, para duvidar de nós mesmos. E, por isso, alguns mestres disseram que o Budismo não é para a grande fé, mas para a grande dúvida. E os mestres devem imitar o que Buddha disse e dizer também: “não creiam em mim: testem e experimentem”.
Seguimos o mestre como seguimos um guia para aprender com ele sobre seu caminho, mas nós mesmos temos pés, pernas, e quem caminha o caminho não é o guia, não é um professor, não é um mestre. Quem caminha somos nós mesmos. O papel dos mestres é ajudar.
Que sentados em zazen aceitemos a liberdade da mente e a liberdade de todos os homens, porque o dedo do Budismo aponta para a liberdade.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.