Vejam que as maiores tragédias que aconteceram no século XX foram provocadas por pessoas cheias de idealismo: revolucionários que queriam destruir o Estado porque ele seria a fonte de todo mal; então, para fazer isso tinham que explodir bombas, ou cometer assassinatos, como mataram Alexandre II, o Czar da Rússia; como mataram Ferdinando, Arquiduque da Áustria, e desencadearam a Primeira Guerra Mundial. Foram todos pessoas que queriam fazer o bem.
E, da mesma forma, podemos citar os piores criminosos do século, todos eles tinham um discurso idealista: “Ah, eu vou fazer o nacional-socialismo, libertar minha nação da tirania dos outros, e vou fazer um mundo perfeito que vai durar mil anos”. Este foi o discurso de Adolf Hitler. E a história se repete com Stalin.
A tentativa de fazer os outros se dobrarem à nossa vontade, à nossa ideologia, à nossa maneira de pensar, pode ser extremamente perigosa. O budismo não sobreviveu praticamente em lugar nenhum ao longo do tempo. Na Índia, o budismo praticamente desapareceu. Sobrou um sistema cripto-budista, o Vedanta, dentro do hinduísmo, cheio de ideias budistas; e muito parecido com o zen, muito bonito, o Advaita Vedanta. Mas eles surgiram uns mil anos depois do surgimento inicial do budismo. A universidade Nalanda foi destruída, os monges foram mortos, etc. Porque a invasão islâmica no século XIII também se encarregou de fazer um grande extermínio, porque eles tinham o certo. Eles tinham a verdade, então eles tinham que destruir o que fosse mentira.
Nós temos muita gente maravilhosa, cheia de ideais, que quer fazer o bem, e que acaba fazendo um mal terrível. Por isso sempre tenho receio das pessoas que sabem o que é certo para os outros e que querem impor o seu certo. Sempre deu na mesma coisa. Aqui no Brasil nós temos o mesmo exemplo, mas felizmente não fomos tão fundo nisso…
[N.E.: transcrição de Palestra realizada por Meihô Genshô Sensei em 26/09/2016]