Os Olhos de Buda | Monge Genshô

Os Olhos de Buda | Monge Genshô

O fato das coisas serem cíclicas, de não serem permanentes ou estáveis. Todos nós gostaríamos que tudo fosse sempre igual, todo mundo gostaria de ser sempre jovem, saudável e feliz. Que os dias fossem sempre assim, com sol, temperatura não muito alta e chovesse entre as duas e às quatro da manhã. Qualquer alteração das coisas gera algum desconforto e sofrimento. Todos os dias você se levanta, olha-se no espelho e vê o trabalho da morte. Você vai envelhecendo e vai morrer. Isso, só isso, essa perspectiva de impermanência, é sofrimento.

Todos os seres que você ama também vão envelhecer, adoecer, morrer. Todas as coisas que você tem ou vão estragar, ou vão enferrujar, ou vão ser roubadas – todas as coisas, porque nada é permanente. Isto faz com que você sinta uma insatisfatoriedade que é o sofrimento da vida. A origem daquilo que nós chamamos de sofrimento é essa própria variação que é inerente ao existir. Como é que você pode se livrar disso? Não existe nenhuma maneira de você fazer com que as coisas sejam permanentes, a única forma de você se livrar do sofrimento, de ver isto, é mudar sua maneira de olhar, é compreender que a natureza das coisas é fluxo e mudança, e não estabilidade e permanência. Então, a saída do sofrimento é a mudança dos seus olhos, você tem que tirar os seus olhos e colocar os olhos de Buda. Se você colocar os olhos de Buda, então aquilo que parece sofrimento passa a ser nada. Isso é difícil, porque, todos os dias, alguém diz uma palavra que nós não gostamos. Isso já é desconforto e sofrimento, mas se você tivesse naquele momento usado os ouvidos e os olhos de Buda, seriam somente os sons acontecendo, não teria o significado que você está dando. É você que dá significado para as coisas, e assim você cria essas insatisfações. Então, quem tem que mudar é você porque o universo não vai mudar.

Trecho da Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, 10/08/2018, Brusque/SC.