Os leigos no budismo japonês

Os leigos no budismo japonês

“As escolas reformadas refletem as importantes transformações sócio-políticas dos séculos XII e XIII que marcam o fim do antigo Estado Despótico Japonês dominado por uma aristocracia latifundiária associada com a Família Imperial, que é substituído por uma sociedade de tipo feudal dominada pelos samurais ou guerreiros profissionais. O advento das escolas reformadas se liga à insatisfação generalizada contra as velhas ordens monásticas degeneradas em meros instrumentos ideológicos de dominação a serviço da aristocracia decadente. As novas escolas correspondiam à expectativa dos samurais, comerciantes e camponeses, acenando-lhes com a possibilidade da realização espiritual na condição laica.
As principais escolas do Budismo Reformado são:
As escolas devocionais Amidistas da Terra Pura (Jôdo-Shû), fundada por Hônen (1133-1212) e a Verdadeira Escola da Terra Pura (Jôdo-Shinshû), fundada por Shinran (1173-1262); são as escolas em que a abertura para o laicato e mostrou maior, encontrando adeptos entre camponeses, comerciantes e demais grupos sociais.
As escolas contemplativas do Budismo Zen Rinzai, introduzida por Eisai (1141-1215) e Sotô, introduzida por Dôgen (1200-1253); embora não inteiramente fechadas aos leigos e alcançando notável difusão entre os samurais, cujo modo de vida influenciou profundamente, o Zen foi durante muito tempo quase que exclusivamente uma escola monástica.
A escola de Nichiren (Nichiren-Shû), fundada por Nichiren (1222-1282), profundamente nacionalista, que representa uma tentativa de reforma e simplificação da antiga Escola Tendai; alcançou certa repercussão entre samurais, comerciantes e artesãos, sem porém, alcançar a popularidade das anteriores no Japão tradicional; no período contemporâneo, porém, reveste-se de excepcional importância como tronco de onde brotaram numerosos movimentos neo-budistas laicos como o Reiyûkai, o Sôkagakkai, o Risshôkôseikai, etc.
No período Tokugawa, essa atitude de valorização positiva das atividades profissionais foi herdada pelos Myôkônin, místicos amidistas leigos dedicados ao comércio, artesanato, agricultura e outras atividades.3
No Zen encontramos tendências laicizantes no pensamento de Ikkyû (1394-1481), contemporâneo de Rennyo, mas só na Era Tokugawa encontramos autores, contemporâneos de Shôsan ou posteriores a ele, que propõem um caminho ético-religioso de realização para os leigos, como Takuan (1573-1645), Hakuin (1685-1768), etc.4
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Outras escolas apresentaram tendências laicizantes nessa mesma época, como as escolas Nichiren e Shingon. Nesta última cumpre destacar a atuação do Mestre Jiun (1718-1804), pioneiro dos estudos de filologia sanscrítica no Japão e autor de vários trabalhos em língua popular de ética budista para leigos, como o Jûzen Hôgo (Sermão sobre os Dez Preceitos Morais) e Hito to naru Michi (O Caminho para a Humanização). Na verdade, podemos concluir que a laicização foi uma tendência geral do Budismo da Era Tokugawa, em parte como reflexo do processo de secularização que marcou todos os aspectos da cultura da época, em parte como uma reação dos budistas à crítica dos confucionistas que condenavam o Budismo como uma doutrina escapista, incompatível com os deveres e solicitações da vida profana.5″
(Trecho de artigo do Dharmanet)