Quando se critica textos de outras tradições, temos que lembrar que os textos budistas também são assim, a única diferença é que ninguém diz que está certo porque é a palavra de Deus e quem disser alguma coisa contra a gente queima na fogueira. Isto é que salva o budismo, porque a confiabilidade dos textos é tão frágil num lugar quanto no outro.
Por isso o Zen apareceu como um movimento que considerava poucos textos e enfatizava uma outra coisa, que tem outro perigo: o Mestre. A transmissão tem que ser de Mestre para discípulo, de coração para coração, de mente para mente, e teoricamente isso garante a pureza do ensinamento. Contudo, podemos deduzir que não garante, porque, por exemplo, eu digo isso aqui e daqui há 200 anos alguém vai dizer: “Monge Genshô que falou, e se ele que falou isso, então é a verdade” – e pronto, alguma coisa já estará distorcida. Compreendem? Há o endeusamento das pessoas, o culto à personalidade. Os erros perduram através do tempo, e eventualmente você tem um aluno que distorce o que você diz. O Zen é um ensinamento baseado na experiência, e não no texto. O mestre é um guia para a sua experiência. É isto.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]