Os dez passos em busca do Boi – parte I
Vamos estudar um texto muito famoso do zen e também os comentários feitos a respeito por Katsuki Sekida. Trata-se do texto “Os dez passos em busca do boi.” Temos aqui o boi, simbolizando o que seria a mente.
O primeiro passo é “Começando a buscar o boi”. Na literatura budista se compara o boi com nossa própria natureza verdadeira, assim, buscar o boi é investigar esta natureza, e o primeiro estágio é o começo dessa investigação. Consideremos um jovem no umbral do caminho: sua imaginação espera muitas coisas do futuro. Umas vezes, alegre, outras pensativo, espera que a vida tenha destinado para ele algo, mas não sabe o que ocorre na realidade, pois, na verdade, ele mesmo não sabe bem o que deseja da vida. A imagem é um homem no caminho. Ele não enxerga o boi que está procurando, ele poderia abrigar a idéia de trabalhar para os demais negando a si mesmo, se sacrificando. Pode ser que pense assim: “Quero fazer algo grande, quero saber como se constitui o mundo e que papel há de ser o meu, quem sou eu, que posso esperar de mim”. Então ele poderá iniciar seus estudos em algo que possa levá-lo a cumprir seus objetivos e sonhos, e em qualquer direção que vá tende a encontrar-se com uma intrincada rede de tráfego, uma espécie de grande labirinto. Trabalhando numa situação que não havia previsto originalmente, vai andando e, de repente, apesar do caminho estar fixado, surge-lhe a sensação de que algo falta. É nesse momento que as pessoas procuram uma religião.
O zazen é o treinamento para converter-se em Budha, para voltar a ser um Budha, posto que a pessoa não perceba que é um desde o princípio. Então ele encontra-se no estágio de iniciar a “busca do boi.” Essa é praticamente, a descrição de todos que chegam a uma prática espiritual – aconteceu algo, parece que a rede da vida não é suficiente ou está incompleta, não nos realizamos completamente.
(continua)