Pergunta: O ciúme é uma fonte dolorosa à medida que cria a ilusão de que o outro te pertence. Esse é um dos maiores obstáculos ao entendimento da realidade última?
Monge Genshō: O ciúme é um resultado do apego, da tentativa de controle e posse. Ele tem relação com a noção de meu, minha. Querer possuir é uma verdadeira doença do ego e o ciúme tem justamente a sua raíz no ego, naquela ideia de querer possuir e acrescentar coisas para si mesmo. Isso é sim um obstáculo.
Pergunta: Podemos usar nossos personagens, nossas fantasias, para ajudar outros seres a se darem conta de suas fantasias?
Monge Genshō: Sim, evidentemente. Se estamos no mundo e somos um personagem que está exercendo um papel então nós agimos como tal. Eu como monge neste momento estou exercendo o papel de professor, o papel daquele que tenta levar o Dharma e o conhecimento de como libertar-se para outras pessoas. Isto é o que nós podemos fazer agora enquanto não somos ainda completamente despertos. Enquanto formos parcialmente despertos, como são todos os Bodhisattvas, o trabalho é tentar ajudar os outros. Só um Buddha tem uma iluminação completa perfeita e universal, mas este é um nível altíssimo, então mantemos como ideal o de um Bodhisattva, aquele que transporta os outros de uma margem para a outra.
Pergunta: Como devo me aprofundar nos ensinamentos budistas, além do zazen que faço diariamente?
Monge Genshō: Você tem as portas dos ensinamentos, você tem a prática do zazen que vai lhe permitir ter uma mente que seja capaz de acessar o significado dos ensinamentos, você pode também realizar a prática de rituais, mesmo os mais simples como acender incenso ou fazer reverências, e tem também a participação na sangha, na comunidade. Precisamos de companheiros de prática porque os companheiros nos apoiam e nos ajudam a prosseguir. O símbolo da Sōtō Zen é o pinheiro porque os pinheiros quando são plantados juntos crescem retos e direitos, mas se são plantados sozinhos ficam tortos. Isso acontece com as pessoas que creem que podem seguir a prática sozinhas, sem mestres, sem companheiros, essas pessoas estão muito enganadas, porque nós precisamos de auxílio, de mestres para nos ajudar a ir mais rápido no caminho, que sejam capazes de nos tirar de problemas ou de práticas errôneas que nos atrasam. Esta ajuda dos mestres é essencial e a ajuda dos companheiros de prática é a maneira de você praticar sua compaixão, sua ajuda pelos outros, assim como sua tolerância e paciência com os erros alheios também. É assim que os pinheiros crescem retos.
Perguntas e respostas de palestras proferida por Meihô Genshô Sensei, ano de 2020.